Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/07/2023
Motor solo ou híbrido
Um ano depois de ter apresentado seu "revolucionário motor 1T", a empresa emergente INNengine, da Espanha, parece estar conseguindo vencer a etapa crucial de mostrar que de fato possui uma tecnologia prática e viável e chamar a atenção dos investidores.
A apresentação inicial da empresa não teve a repercussão desejada porque parecia estar no momento mais inadequado possível; afinal, um novo motor a combustão não é o que mais chama a atenção no momento em que o mundo se prepara para mover-se dos motores a combustão em direção aos motores elétricos.
Mas a tecnologia da INNengine parece ter argumentos suficientes para isso.
Em relação a um motor convencional a combustão de quatro tempos, o novo motor 1T é 55% menor, 70% mais leve, pode funcionar com qualquer combustível líquido e é muito mais simples, com um número de peças móveis muito menor.
Por exemplo, a empresa apresentou o protótipo de um motor com potência e torque equivalentes ao de um motor 2.0 de um carro, e ele pesa apenas 35 kg e é pouco maior do que um motor elétrico automotivo, o que permite fabricar um veículo com menor custo e com um ganho significativo de economia de combustível, já que o carro pesará muito menos.
Sendo tão pequeno e leve, o motor também traz outro argumento de venda que está sendo levado a sério: Ele não compete com os motores elétricos, podendo compor um sistema híbrido muito mais vantajoso do que os atuais veículos que levam as duas motorizações.
Motor 1 tempo
A tecnologia da INNengine consiste em um motor que faz o ciclo completo da combustão em um único evento.
O motores dos carros e atuais, e de praticamente todas as motos, são motores 4 tempos, o que significa que são necessários quatro passos para transformar o movimento linear dos cilindros no movimento circular do eixo e voltar ao estado inicial - e cilindro se move para cima e para baixo duas vezes nesse processo.
No 1º tempo (admissão), o combustível vaporizado pelo injetor é puxado por sucção, conforme o pistão desce, para dentro do cilindro, através de uma válvula de admissão, que se fecha quando o pistão atinge o fundo do cilindro. No 2º tempo (compressão), o pistão sobe novamente, comprimindo o vapor de combustível. No 3º tempo (combustão) dá-se a queima do combustível, empurrando o cilindro para baixo. No 4º tempo (escape) o pistão move-se novamente para cima e se abre uma outra válvula, chamada válvula de escape, expulsando os resíduos da queima do combustível.
Existem motores de dois tempos, que fazem isso de forma mais simples e sem as perdas de um movimento adicional do pistão, o que lhes dá mais potência, mas com uma série de desvantagens, incluindo o maior consumo de combustível e fato de que a lubrificação do motor precisa ser feita pelo próprio combustível, ou seja, o motor está também sempre queimando óleo, tornando-o muito mais poluente.
O motor da INNengine faz tudo isso com um único tempo (1T) graças a uma arquitetura em que os cilindros funcionam em duplas, posicionados axialmente, compartilhando a mesma câmara de combustão. Isso significa que todos os eventos (admissão, compressão, combustão e escape) estão ocorrendo simultaneamente, sem que o motor deixe de executar trabalho, ou seja, o movimento linear dos pistões está sempre sendo traduzido em movimento circular do eixo.
Motor multicombustível
O motor de 1 tempo apresentou vantagens inesperadas, a começar por um rodar suave e virtualmente sem vibrações.
Como o movimento dos cilindros é sempre recíproco, o deslocamento de um compensa o do outro, o que significa que ambos estarão sempre em equilíbrio em todos os três planos, praticamente não gerando vibrações.
Além disso, os cilindros podem receber lubrificação normalmente, como um motor 4T, dispensando a necessidade de mistura do lubrificante ao combustível, como acontece nos motores 2T.
Finalmente, a conversão do movimento linear em movimento circular não é feita por um virabrequim, mas por uma came, uma placa giratória com superfície em formato de onda, permitindo que as bielas empurrem e soltem os pistões em uma ação suave e sincronizada. E isto traz outra vantagem enorme: Uma taxa de compressão dos cilindros que é variável, o que significa que o motor é naturalmente multicombustível, não precisando ser ajustado para queimar de modo ótimo etanol ou gasolina, por exemplo.
Como todos os eventos da combustão ocorrem simultaneamente, além do virabrequim dispensam-se as válvulas de admissão e de escape, bem como seu eixo acionador, chamado comando de válvulas, e o cabeçote.
Agora a empresa está trabalhando em colaboração com engenheiros da Universidade de Valência, para que os motores 1T sejam aprovados pelas novas normas de emissões de poluentes que deverão entrar em vigor na Europa em 2025.
Enquanto isso, os testes de rendimento e durabilidade continuam sendo feitos em veículos e, mais recentemente, em um drone, uma vez que a empresa prevê que o mercado aeronáutico possa representar uma fatia importante do seu futuro mercado.