Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/06/2021
Etanolamina no espaço
Uma equipe internacional e multidisciplinar, envolvendo astrofísicos, astroquímicos e bioquímicos, detectou pela primeira vez no espaço interestelar a substância prebiótica etanolamina.
A etanolamina (NH2CH2CH2OH), uma molécula que contém quatro dos seis elementos químicos essenciais à vida, faz parte dos fosfolipídios, moléculas que compõem as membranas celulares, e pode servir como precursora do aminoácido glicina.
O aparecimento das membranas celulares representa um marco crucial na origem e na evolução inicial da vida na Terra, uma vez que as membranas são responsáveis por manter as condições estáveis dentro das células, protegendo tanto o material genético quanto o maquinário metabólico.
Contudo, embora as membranas de todas as células que existem hoje sejam feitas de fosfolipídios, os cientistas ainda não compreendem como surgiram as primeiras membranas - e nem os próprios fosfolipídios - nas etapas iniciais da evolução da vida.
Assim, a descoberta dessa molécula no espaço pode tornar o problema da origem da vida na Terra uma questão mais universal, por assim dizer, uma vez que passa a ser possível que essa molécula tenha simplesmente sido trazida do espaço para o nosso planeta em sua infância.
Moléculas que originaram a vida
Victor Rivilla e seus colegas utilizaram o radiotelescópio IRAM de 30 metros de diâmetro (Granada) e o radiotelescópio de 40 metros do Observatório Yebes (México) para fazer suas observações.
A molécula prebiótica foi encontrada na nuvem molecular G+0,693-0,027, localizada próximo ao centro da Via Láctea.
"Estes resultados sugerem que a etanolamina é eficientemente sintetizada no espaço interestelar em nuvens moleculares onde novas estrelas e sistemas planetários são formados," disse Rivilla, que trabalha no Centro de Astrobiologia da Espanha.
Os pesquisadores constataram que a abundância da etanolamina em relação à água no meio interestelar indica que a etanolamina provavelmente se formou no espaço e poderia mais tarde ser transferida para os grânulos que formam asteroides, de onde vêm os meteoritos que caem em planetas e luas.
"Sabemos que um amplo repertório de moléculas prebióticas poderia ter atingido a Terra primitiva por meio do bombardeio de cometas e meteoritos," disse Izaskun Serra, coautora do estudo. "Estimamos que cerca de mil trilhões (1 seguido de 15 zeros) litros de etanolamina poderiam ter sido transferidos para a Terra primitiva por meio de impactos de meteoritos. Isso equivale ao volume total do Lago Vitória, o maior da África em área."
"A disponibilidade de etanolamina na Terra primitiva, juntamente com glicerol, grupos fosfato e ácidos graxos ou álcoois, pode ter contribuído para a evolução das primeiras membranas celulares. Isso tem implicações importantes não apenas para o estudo da origem da vida na Terra, mas também em outros planetas e satélites habitáveis dentro do Sistema Solar ou em qualquer parte do Universo," acrescentou Carlos Briones, membro da equipe.