Redação do Site Inovação Tecnológica - 18/05/2022
Inclusões fluidas primárias
Cientistas descobriram autênticas "cápsulas do tempo", que preservaram sinais de vida primordial por quase 1 bilhão de anos.
Sara Gomes e seus colegas da Universidade Oeste da Virgínia, nos EUA, estavam estudando rochas muito antigas coletadas na Austrália, de cerca de 830 milhões de anos, chamadas halitas - é o mesmo sal de cozinha, só que de origem sedimentar, por isso também chamado de sal de rocha, sal-gema ou sal fóssil.
O interesse de Sara estava nas inclusões fluidas encontradas na halita, que são pequenas bolhas no interior do mineral. Quando a halita se formava, tipicamente por evaporação, uma parte do líquido ou do ar atmosférico ia ficando presa em seu interior.
E lá ficou até agora, sem nenhum contato com o mundo exterior.
Inclusões fluidas são conhecidas há muito tempo, sendo um material importante de estudo para os geólogos, paleontólogos, climatologistas e estudiosos de vários outros campos.
A diferença agora é que Sara encontrou nas inclusões fluidas da halita sólidos e líquidos orgânicos. E, ao analisá-los de forma não-destrutiva - sem precisar quebrar a rocha e coletar as bolhinhas de água - os resultados mostraram que esses "objetos" são consistentes em tamanho, forma e resposta fluorescente a células de procariontes e algas e agregados de compostos orgânicos.
Isto mostra que microrganismos de ambientes deposicionais salinos, que dão origem a esse tipo de rocha sedimentar, podem permanecer bem preservados por centenas de milhões de anos e podem ser estudados in situ apenas com métodos ópticos, sem riscos de contaminação.
Isto tem implicações para a busca de vida em rochas sedimentares químicas não apenas aqui na Terra, mas também em amostras extraterrestres.
Vida aprisionada
À medida que os cristais de halita crescem em águas superficiais salinas, eles podem reter a água-mãe naquilo que os geólogos chamam de inclusões fluidas primárias. Além da água, podem também ficar presos quaisquer sólidos que estavam na água perto ou sobre a face do cristal.
Esses sólidos incluem minúsculos cristais de minerais evaporíticos ou orgânicos. Estudos anteriores de halitas modernas a permianas (até 299 milhões de anos atrás) documentaram a presença de organismos procarióticos e eucarióticos e compostos orgânicos, incluindo beta-caroteno.
Além de voltar muito mais longe no tempo - 830 milhões de anos - este estudo conseguiu detectar os compostos usando apenas métodos ópticos, especificamente petrografia por luz visível e por ultravioleta.
Isto reforça a utilidade dos métodos ópticos não-destrutivos como um primeiro passo - antes de quebrar as rochas e coletar as amostras - no exame de sedimentos químicos em busca de bioassinaturas. O contexto petrográfico das inclusões fluidas é vital para garantir que o conteúdo das inclusões fluidas represente as águas originais e, portanto, tenham a mesma idade da halita.
Ao demonstrar que os microrganismos podem ser preservados em inclusões fluidas por milhões de anos, o estudo indica que bioassinaturas poderiam ser detectadas em sedimentos químicos de Marte ou das luas de Júpiter e Saturno.