Com informações da Agência Fapesp - 22/06/2015
Semicondutor natural
A melanina é um polímero biológico natural, responsável pela cor dos nossos cabelos, olhos e pele, mas igualmente disseminada pela natureza, dos seres humanos até os fungos.
O que poucos sabem é que a melanina possui também capacidades de condutividade elétrica e condutividade iônica, que são as formas de transporte de eletricidade dos aparelhos eletroeletrônicos e dos seres vivos, respectivamente.
Isto torna a melanina um componente ideal para a bioeletrônica, dispositivos biologicamente compatíveis que podem fazer a conexão entre o eletrônico e o biológico, com aplicações especialmente na área da saúde, em sensores médicos ou tratamentos de estimulação de tecidos vivos, por exemplo.
Foi essa potencialidade que despertou o interesse dos pesquisadores do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um instituto que reúne pesquisadores de várias instituições brasileiras, sediado na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
"Trata-se de um semicondutor orgânico natural, muito complexo do ponto de vista estrutural porque não é um material sintetizado pelo homem. A maior dificuldade experimental está em fazer o que a ciência dos materiais considera fundamental para o avanço do conhecimento na área: encontrar a relação estrutura-propriedade. Sem essa compreensão estrutural não é possível estabelecer ligações com as propriedades desejadas", explica Carlos Frederico Graeff.
Estrutura eletrônica
A equipe brasileira então combinou o cálculo de estrutura eletrônica à técnica experimental de ressonância eletrônica de spin, utilizada no estudo de radicais livres e de defeitos em materiais, para caracterizar a estrutura da melanina e relacioná-la às suas propriedades bioeletrônicas.
O resultado foi a descoberta de pelo menos dois centros na estrutura molecular da melanina que são responsáveis pelos resultados experimentais apresentados pela substância, incluindo o paramagnetismo.
A expectativa da equipe brasileira é que, ao ajudar a compreender melhor o semicondutor biológico, seus estudos facilitem a exploração de suas propriedades e a sua eventual replicação em compostos sintéticos para uso prático.
A melanina ainda não possui aplicações comerciais, mas sua estrutura já serviu de inspiração para a fabricação de transistores biodegradáveis, usados na construção de um chip experimental para conexão de implantes no corpo humano.