Da Embrapa - 22/12/2010
Do café para o guaraná
Uma parceria recentemente articulada pela Embrapa Amazônia Ocidental com empresas privadas poderá promover um significativo avanço no beneficiamento da produção de guaraná no Estado do Amazonas.
Com o objetivo de adaptar o processo de pós-colheita do guaranazeiro a partir de equipamentos concebidos originalmente para a cultura do café, será possível diminuir as perdas do produto nessa fase crítica de produção.
A pesquisa é desenvolvida na Agropecuária Jayoro Ltda, empresa parceira da Embrapa, utilizando-se máquinas cedidas pela Pinhalense S.A. Máquinas Agrícolas, empresa líder mundial de mercado de equipamentos para processamento pós-colheita do cafeeiro.
Colheita do guaraná
Os técnicos e engenheiros da Pinhalense e os pesquisadores da Embrapa, apoiados pelos profissionais da Jayoro, desenvolvem um novo processo para o beneficiamento dos frutos do guaraná, mediante ajustes nos equipamentos.
"Os resultados até agora alcançados são excepcionais e apontam na direção de uma modificação radical do processo pós-colheita do guaranazeiro", informa o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Lucio Pereira Santos, que está à frente do projeto.
Segundo ele, dois importantes aspectos já foram observados: a máquina despolpadora, após ter sido ajustada para o guaraná, apresentou desempenho superior de despolpamento de frutos frescos, não-fermentados, quando comparado com o despolpamento tradicional, que é aquele processado com frutos fermentados por cerca de 72 horas após colhidos.
Além de despolpar em menor tempo e exigir menor manutenção de limpeza das peneiras, não provoca quebra e nem perdas de sementes que anteriormente saíam junto com as cascas.
Outra vantagem é que as sementes após o despolpamento terão maior tempo útil de armazenamento, sem deterioração por fungos e demais agentes patogênicos que atualmente constituem problemas ao armazenamento das sementes de guaranazeiro. Além disso, as sementes por não serem submetidas ao processo de fermentação tendem a apresentar menores contaminações microbiológicas. Esse processo será estudado com maiores detalhes no transcorrer da pesquisa.
Cafeína no guaraná
A modificação do modo de despolpamento também está eliminando antigos paradigmas, como o de que a fermentação dos frutos de guaranazeiro confere aumento no teor de cafeína às sementes.
Segundo o pesquisador, essa hipótese tem sido rejeitada após análises comparativas realizadas na Jayoro envolvendo sementes fermentadas e não-fermentadas.
Mas essas análises ainda serão repetidas em grupos de tratamentos que considerarão vários períodos distintos de fermentação para que se comprove essa teoria.
Pela primeira vez na história da guaranicultura esses aspectos estão sendo estudados com bases científicas, articulados pela Embrapa Amazônia Ocidental, por meio de um projeto intitulado: "Desenvolvimento de um modelo de produção integrada de guaraná no Estado do Amazonas", coordenado pelo pesquisador Lucio Pereira Santos.
Tecnologia de despolpamento
Os próximos passos serão ajustar outros componentes importantes do sistema. Ao final de todo o processo, após as realizações das análises estatísticas e comprovação dos resultados, será feita a validação da nova tecnologia e o novo processo será lançado e disponibilizado para todos os produtores rurais interessados em sua adoção.
De acordo com Lucio, uma Unidade Piloto para o Processamento Pós-Colheita de Guaraná será instalada no Campo Experimental de Maués, com os objetivos de se realizarem cursos de treinamento para técnicos, engenheiros, produtores e demais públicos interessados em participar da cadeia produtiva do guaranazeiro.
Outra utilidade da Unidade Piloto será a realização de pesquisas envolvendo as fases de preparo, beneficiamento, armazenamento e processamento das sementes de guaranazeiro.