Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/01/2020
Madeira funcional
Um material que combina o humilde grafite com a não menos simples celulose da polpa de madeira mostrou ser mais leve e mais forte do que materiais estruturais largamente utilizados, incluindo aços, ligas de titânio e fibras de carbono.
Além de extremamente forte, o novo material estrutural, feito com grafite e nanocelulose, é reciclável, o que promete fornecer uma alternativa ecológica para a construção de veículos, aeronaves e coletes de segurança mais leves.
"A madeira e os materiais derivados [da madeira] têm muito a oferecer," disse o professor Liangbing Hu, da Universidade de Maryland, nos EUA, observando que os materiais à base de celulose são recicláveis, biocompatíveis e biodegradáveis.
"Essas são propriedades fantásticas, mas, para tornar esses materiais bem-sucedidos, precisamos mostrar que o desempenho deles é superior ao dos materiais tradicionais," acrescentou ele.
Tipos de ligações químicas
Os materiais estruturais devem sua força e resistência à presença de fortes ligações químicas primárias entre seus átomos: ligações metálicas nos metais e ligas metálicas, ligações covalentes carbono-carbono nas fibras de carbono e ligações iônicas na cerâmica.
A força dessas ligações, no entanto, é tanto uma bênção quanto uma maldição: Para manipular, fabricar e reciclar esses materiais, essas ligações devem ser quebradas e reformadas, o que exige altas temperaturas e consome grandes quantidades de energia, levando a um custo substancial e a uma pegada ambiental pesada.
A estratégia adotada por Hu e seus colegas aproveita as ligações químicas secundárias, como as ligações de hidrogênio, que são abundantes em materiais orgânicos como a nanocelulose. Embora a energia necessária para criar ou quebrar uma ligação individual de hidrogênio seja muito menor do que a de uma ligação química primária, as redes dessas ligações podem tornar um material extremamente forte.
Madeira com nanotecnologia
Neste novo material, a equipe aproveitou essas ligações para "grudar" a celulose no grafite, que é duro, mas quebradiço demais para ser usado em estruturas de suporte de carga, uma deficiência que a madeira supre naturalmente nas árvores.
Para fabricar um compósito de grafite-nanocelulose, a equipe preparou uma pasta altamente concentrada de água, flocos de grafite e nanocelulose a temperatura ambiente. Em seguida, essa mistura foi dispersa em camadas com 20 micrômetros de espessura. As camadas são flexíveis, podendo ser dobradas até um raio de 2 mm sem se quebrar, e várias camadas podem ser prensadas a quente para formar folhas mais espessas.
As medições mecânicas mostraram que o material é excepcionalmente forte. As folhas são mais resistentes do que o aço inoxidável e 6 vezes mais leves. A resistência específica do material (a força dividida pela densidade do material) é superior à dos materiais utilizados em aplicações estruturais, como aços, ligas de alumínio e ligas de titânio.
Esta é apenas a mais recente novidade do grupo do professor Hu, cuja equipe já criou uma madeira que gera eletricidade sem queimar, uma madeira à prova de balas, uma madeira antichama, uma esponja de madeira e até uma madeira transparente para iluminação de interiores.