Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/04/2023
Juntando ferro e magnésio
A tecnologia automotiva e de transportes em geral é largamente dependente do aço. Mas o aço é pesado, o que tem justificado a busca por alternativas para melhorar o consumo de combustível ou bateria, a segurança e a velocidade dos transportes públicos, ao mesmo tempo em que se diminui a pegada ambiental.
As ligas de magnésio, com sua baixa densidade e excelente relação resistência/peso, são consideradas a base metálica de uma próxima geração de projetos multimateriais e têm sido apontadas como um possível substituto para os aços convencionais - a indústria automobilística flerta com o magnésio há décadas, tendo sido feitos inclusive protótipos de motores com blocos de magnésio.
Mas há um grande gargalo para que o magnésio entre de vez na indústria de transportes: O magnésio e o ferro são imiscíveis, e não formam uma fase de liga, o que dificulta qualquer tentativa de conexão direta entre as peças de magnésio e os aços estruturais.
Esse desafio agora começou a ser vencido por engenheiros japoneses, que conseguiram estabelecer um processo produtivo que resulta em uma forte ligação mecânica entre ferro e magnésio.
Desmetalização
A técnica, que obtém uma ligação muito mais forte do que uma soldagem, é tecnicamente conhecida como lixiviação seletiva - também chamada de desmetalização, separação ou corrosão seletiva. É um tipo de "corrosão" seletiva feita em uma solução sólida para a extração de um componente da liga a partir do material inicialmente homogêneo.
Para unir ferro e magnésio, primeiramente uma camada de ferro-níquel é colada no topo da peça de ferro. Posteriormente, um pedaço de magnésio é anexado e aquecido. Então, a reação de desmetalização do níquel se difunde seletivamente no magnésio, promovendo o desenvolvimento da estrutura bicontínua de ferro e magnésio. Devido ao efeito de ancoragem microcristalina, ferro e magnésio ficam fortemente ligados, mesmo que sejam imiscíveis.
"Nossa reação de desmetalização deriva da miscibilidade e imiscibilidade dos elementos constituintes da ligação e também ajudou a criar uma microestrutura tridimensional e interligada na interface dos dois materiais," disse o pesquisador Kota Kurabayashi, da Universidade de Tohoku, no Japão.
E a abordagem é genérica, podendo fornecer um método de ligação mecânica ideal entre materiais que não podem formar ligações fortes naturalmente - ou seja, ela poderá ter aplicação em outras ligas ou ligações do aço com materiais leves.
A equipe agora planeja aplicar a técnica para unir materiais dissimilares imiscíveis e produzir novos materiais leves que reduzam o consumo de combustível de automóveis, trens e aviões.