Da New Scientist - 05/10/2018
Comemorar o quê?
Só em Julho do ano que vem comemoraremos os 50 anos dos primeiros passos humanos na Lua, mas os burburinhos da comemoração já podem ser ouvidos, principalmente nos cinemas.
O pouso na Lua foi o primeiro evento de mídia verdadeiramente global e uma expressão icônica do desejo humano de explorar e entender o Universo.
É estranho, então, que o aniversário de outro evento que encarnou a mesma aspiração tenha passado com tão pouca fanfarra, no último dia 10 de Setembro. Com uma audiência global de mais de 1 bilhão de pessoas, a ativação do LHC, ou Grande Colisor de Hádrons, foi vista por mais pessoas do que o primeiro pouso na Lua.
Como se disse na época, ligar o LHC "foi para a física o que o programa Apolo era para a exploração espacial".
É fato que as coisas não começaram muito bem, com a quebra do ainda reluzente acelerador de partículas apenas dois dias depois de ser ligado.
Mas, na verdade, a euforia dos primeiros momentos deu lugar a uma realidade mais sóbria.
O que deu certo
Vamos celebrar os pontos positivos. Para começar, o LHC não destruiu o mundo sugando-o para um buraco negro, como prediziam alguns teóricos mais estilo "mídias sociais" - ainda que outros físicos bem mais comedidos tenham vindo a público depois explicar sobre as possibilidades dos micro-buracos negros e seu papel quanto a outras dimensões.
Então teve o bóson de Higgs, é claro. Sua descoberta em 2012, embora em um comunicado cheio de tato e depoimentos falando de uma "aparente descoberta", representou a glória suprema do Modelo Padrão da física de partículas, a confirmação final de uma ideia teórica concebida apenas cinco anos antes de Armstrong dar seu pequeno passo na Lua.
De qualquer forma, um Nobel de Física depois, mas principalmente a detecção do decaimento do bóson de Higgs, hoje ninguém mais duvida da corrente principal da Física.
O que não deu tão certo
Mas é justamente aí onde os problemas começam.
"Há um enorme elefante na sala, e é por isso que sabemos que o Modelo Padrão não é uma teoria final," disse Tara Shears, da Universidade de Liverpool e membro do experimento LHCb, ainda concentrado em encontrar uma "nova física".
O Modelo Padrão não consegue explicar a natureza de fenômenos como a matéria escura ou a energia escura, e nem mesmo porque a massa medida do bóson de Higgs oscila no limite mais baixo do que é possível em um Universo estável.
A supersimetria se anunciou como o sucessor muito elogiado do Modelo Padrão, prevendo um enxame de partículas adicionais. "O LHC procurou meticulosamente ao ar livre, bem como em vários cantos e recantos por estas [partículas] e mostrou que elas não estão lá," conta Ben Allanach, da Universidade de Cambridge, um ex-aderente à supersimetria.
O que fazer
Isso é um golpe para os egos dos físicos teóricos, condicionados por uma série de sucessos que culminaram na descoberta do bóson de Higgs. Isto sugere que, onde quer que uma teoria melhor esteja, ela provavelmente não terá a beleza da supersimetria.
Mas ninguém disse que investigar a essência da realidade era fácil. Resta o consolo de que o LHC já determinou o conteúdo do Universo com maior precisão do que qualquer experimento anterior.
O que nos resta fazer? A proposta dos físicos já está bem delineada e, na verdade, já em andamento: construir um LHC maior.