Redação do Site Inovação Tecnológica - 31/08/2020
Conversão de matéria em informação
O físico Melvin Vopson, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, fez um cálculo interessante e que, segundo ele, pode marcar a passagem de uma era da nossa civilização.
Ele calculou que o número de bits - dados armazenados eletronicamente de forma binária - vai superar o número de átomos que formam a Terra em cerca de 150 anos.
"O crescimento da informação digital parece realmente imparável," disse Vopson. "De acordo com a IBM e outras fontes de pesquisa de megadados, 90% dos dados do mundo hoje foram criados apenas nos últimos 10 anos. De certa forma, a atual pandemia de covid-19 acelerou esse processo, à medida que mais conteúdo digital é usado e produzido do que nunca."
Mas o pesquisador encara seu trabalho de um modo que supera muito a ideia de um cálculo feito por mera curiosidade.
Vopson baseia-se na equivalência massa-energia da teoria da Relatividade Geral de Einstein, no trabalho de Rolf Landauer, que aplicou as leis da termodinâmica à informação, e no trabalho de Claude Shannon, considerado o inventor do bit digital.
Assim apoiado nos ombros de gigantes, ele formulou um princípio que postula que a informação se move entre os estados de massa e energia, assim como qualquer outra matéria.
"O princípio de equivalência massa-energia-informação baseia-se nesses conceitos e abre uma vasta gama de novas físicas, especialmente na cosmologia," disse ele. "Quando alguém traz o conteúdo da informação para as teorias físicas existentes, é quase como uma dimensão extra para tudo na física."
Conversão da Terra em Matrix
Segundo o pesquisador, à medida que usamos recursos, como petróleo, gás natural, carvão, cobre, silício e alumínio, para alimentar enormes "fazendas de computadores" e processar informações digitais, nosso progresso tecnológico está redistribuindo a matéria da Terra, de átomos físicos para informações digitais.
Ele vai além, e chama as informações digitais de "quinto estado da matéria" - ao lado de líquido, sólido, gás e plasma.
Eventualmente chegaremos a um ponto de saturação total, um período em nossa evolução em que os bits digitais superarão os átomos na Terra, um mundo "principalmente simulado por computador e dominado por bits digitais e código de computador. É só uma questão de tempo," disse Vopson.
E isso tampouco é apenas um conceito teórico, diz o físico, devido à equivalência de massa e energia: "O limite iminente do número de bits, a energia para produzi-los e a distribuição da massa física e digital dominará o planeta em breve. Estamos literalmente mudando o planeta pouco a pouco, e é uma crise invisível".
Com base no ritmo atual de crescimento do volume de dados digitais, Vopson calcula que levará aproximadamente 130 anos até que a energia necessária para sustentar a criação de informação digital iguale a toda a energia produzida no planeta Terra.
Mantido esse ritmo, em 2245 metade da massa da Terra seria convertida em massa de informação digital, diz ele.