Redação do Site Inovação Tecnológica - 04/02/2010
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, inaugura nesta sexta-feira (5), a fábrica da Ceitec S.A., a primeira fábrica de chips da América Latina.
Instalada em Porto alegre (RS), a Ceitec é uma estatal, com fins lucrativos, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, criada por decreto presidencial em novembro de 2008. O investimento na construção foi superior a R$ 400.
Indústria eletrônica no Brasil
O investimento feito pelo governo, superior a R$ 400 milhões, tem o objetivo de desenvolver a indústria de semicondutores no Brasil, atraindo novos fabricantes e gerando as condições para a consolidação da indústria microeletrônica avançada no País.
Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos países desenvolvidos, o setor eletrônico responde por 12% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, a indústria eletrônica é responsável por apenas 1,7% do PIB.
Sala limpa
A fábrica tem uma sala limpa classe 100, considerada 10 mil vezes mais limpa do que uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Tamanho grau de assepsia é necessário para que os circuitos integrados (CIs) sejam gravados nas pastilhas (wafers) de silício. Para garantir esse nível de limpeza, a Ceitec utiliza água e ar ultra puros, produzidos na empresa.
Os chips da Ceitec são produzidos a partir de wafers de seis polegadas de diâmetro. O processo produtivo da fábrica se inicia com esses wafers, que são lâminas circulares de silício - que é um material semicondutor - e termina com os chips impressos em processos fotoquímicos nessas lâminas.
Cada chip é fruto de um processo de 200 etapas, desde a difusão das pastilhas de silício em fornos até a aplicação de íons sobre o chip para alteração de suas características de condutibilidade.
Cada circuito integrado gravado na pastilha tem uma espessura centenas de vezes mais fina do que um fio de cabelo. Por isso, desde o design do chip até sua fabricação e teste, é aplicada uma tecnologia de ponta até agora inédita no Brasil.
A Ceitec foca sua atuação nos segmentos de identificação por radiofrequência (RFID), comunicação sem fio e mídias digitais. A empresa já desenvolveu e produziu chips para rastreabilidade animal e para moduladores de TV digital, além de um circuito integrado para controle e automação industrial.
Mão de obra especializada
O presidente da entidade é o alemão Eduard Weichselbaumer, escolhido pelo comitê de busca do MCT devido à sua experiência de mais de 25 anos na indústria de semicondutores na Europa, Estados Unidos e Ásia. Weichselbaumer já foi executivo e presidiu companhias que, a exemplo da Ceitec iniciavam suas atividades, as chamadas start-ups.
A Ceitec está em fase de expansão. Após entrar em operação, em agosto de 2009, em apenas 60 dias contratou quase 100 profissionais de alta especialização e classe mundial. Até maio próximo, serão mais de 250 funcionários nas áreas de engenharia e técnicos especialistas no Design Center e na fábrica.
Este ano, o Ceitec prevê contratar 120 engenheiros, incluindo mestres, doutores, profissionais com experiência na indústria de semicondutores e recém-formados. A fábrica deve empregar cerca de 40 profissionais altamente especializados, enquanto os demais deverão trabalhar no centro do pesquisa e desenvolvimento da estatal.
RFID e WiMax
O Chip do Boi, tecnicamente uma etiqueta RFID, está em fase de teste de campo, em Minas Gerais. Serão mais de 10 mil brincos aplicados em rebanhos no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e outros estados.
Também usando a tecnologia de RFID, foram criados produtos para rastreabilidade de automóveis, automação de aeroportos, rastreabilidade de medicamentos e derivados de sangue e o passaporte eletrônico.
Estão em desenvolvimento, chips para modulação (recepção) de TV Digital e para a última milha de transmissão de banda larga via WiMax.
Balança comercial de eletrônicos
A indústria eletroeletrônica representa o maior setor industrial nas economias avançadas. Este ano, mais de 12% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial serão gerados por este setor, de acordo com a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE). No Brasil, segundo a Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a indústria eletroeletrônica representava 4,3% do PIB, em 2008.
Os dados consolidados da Abinee mostram ainda que o déficit da balança comercial de produtos do setor eletroeletrônico foi de US$ 17,5 bilhões, em 2009, superando as previsões anteriores de US$ 16,8 bilhões. Para este ano, a previsão é que o déficit atinja US$ 19,5 milhões. Grande parte deste déficit resulta da reduzida fabricação no País de semicondutores e do alto volume de importações para atender a demanda por produtos eletroeletrônicos.
As exportações brasileiras decorrente da produção de componentes discretos e do encapsulamento, montagem final e testes de componentes semicondutores, em geral de baixa complexidade, cresceram 50% entre 2000 e 2008, passando de US$ 50 milhões em 2000 para US$ 76 milhões em 2008, retornando ao patamar de US$ 57 milhões em 2009. As importações, por sua vez, cresceram 94,1% no mesmo período (média superior a 8% ao ano). Em 2000, eram de US$ 2 bilhões, chegando a US$ 4 bilhões em 2008 e US$ 3,2 bilhões em 2009.
O déficit nacional em componentes semicondutores também tem crescido, em decorrência da pequena produção e do crescente aumento no uso de circuitos integrados na indústria eletroeletrônica. A relevância dos componentes semicondutores para o setor eletroeletrônico, não só como insumo, mas também como agente indutor de inovações, motivou a inclusão do tema entre as prioridades nos planos e programas do governo Federal.