Carlos Orsi - Inova Unicamp - 28/09/2012
Desnuclearização
O gabinete de governo japonês evitou comprometer-se com as recomendações de um comitê consultivo que sugeria que o país abandonasse por completo o uso da energia nuclear até 2030 e desativasse todo o seu parque nuclear até 2040, informa a agência de notícias Associated Press (AP).
De acordo com a agência, o recuo foi causado pela pressão de grupos empresariais e de defensores da energia atômica.
Autoridades disseram que, embora o rumo da política energética japonesa deva ser o da desnuclearização, não foram assumidos compromissos com prazos e metas como os propostos pelo comitê.
O anúncio ocorreu no mesmo dia em que foi apresentado o novo órgão regulador do setor nuclear, que substituirá a agência anterior, tida como excessivamente leniente e cujas práticas teriam facilitado a ocorrência do desastre Fukushima, em 2011.
Declarações políticas
Quando o relatório do comitê consultivo foi divulgado, em meados de setembro, a indicação era de que o governo seguiria suas recomendações.
Agora, no entanto, os ministros limitaram-se a "concordar de modo vago" com seus termos, segundo a descrição da AP.
Pesquisas de opinião pública indicavam, antes do desastre de Fukushima, que mais de 70% da população era a favor do fim da energia nuclear. Nos últimos meses, audiências públicas foram dominadas por declarações contrárias à retomada da produção.
Antes do anúncio do plano, agora aparentemente suspenso, de desativação total do parque nuclear, a previsão era de que a participação da energia atômica na matriz japonesa caísse a 15% até 2030, ante os 26% anteriores ao desastre.
A demanda que a fonte nuclear deixaria de suprir teria de coberta por importações de combustíveis fósseis, além de investimentos maciços em fontes renováveis.
Causado pelo homem
A usina de Fukushima foi atingida por um terremoto, seguido de um tsunami, em 11 de março de 2011, o que desencadeou um vazamento de radiação que forçou a remoção de 150.000 moradores das imediações do complexo nuclear.
Uma investigação oficial concluiu que o desastre havia sido "causado pelo homem", já que várias medidas de segurança preventivas que poderiam ter mitigado as consequências do desastre natural não haviam sido tomadas, por conta de um relaxamento das autoridades responsáveis pelo controle do setor.
A reação popular contra o uso da energia nuclear foi tão grande que apenas em junho de 2012, mais de um ano após o desastre, foi autorizada a reativação de dois reatores nucleares no país. A legislação japonesa exige que cada reator seja desativado periodicamente, para manutenção, e a reativação só pode ocorrer com permissão das autoridades.
Até Fukushima, essa autorização não passava de uma formalidade burocrática, mas desde o acidente, nenhuma permissão para religar reatores havia sido concedida. Com isso, todos os 50 reatores nucleares do país encontravam-se desligados no fim de maio.
Em 16 de junho, o primeiro-ministro Yoshihiko Noda anunciou a reativação de dois reatores da usina de Oi, no oeste do país, depois de obter o apoio do prefeito de Oi e do governador da região. Segundo o jornal britânico The Guardian, o primeiro-ministro vinha sendo pressionado por um lobby de empresários que temia que a indústria fosse atingida por uma escassez de eletricidade.
A decisão, no entanto, enfrentou contestações: ainda segundo a publicação britânica, cerca de 10.000 manifestantes reuniram-se do lado de fora do gabinete do chefe do governo para protestar contra a autorização.