Com informações do ESO - 11/01/2021
Morte de uma galáxia
As galáxias começam a "morrer" quando param de formar estrelas, mas até agora os astrônomos nunca tinham observado claramente o início desse processo.
Com o auxílio do radiotelescópio ALMA, agora foi captada uma galáxia que já ejetou quase metade de seu gás de formação estelar. Essa ejeção está acontecendo a uma taxa surpreendente, equivalente a 10.000 sóis por ano, o que significa que a galáxia está perdendo muito rapidamente o "combustível" necessário à formação de novas estrelas.
A equipe acredita que este evento foi desencadeado pela colisão com outra galáxia, o que poderá levar os astrônomos a repensar o modo como as galáxias param de formar novas estrelas.
"Esta é a primeira vez que observamos uma galáxia com formação estelar massiva típica no Universo distante prestes a 'morrer' devido a uma ejeção massiva de gás frio," disse Annagrazia Puglisi, da Universidade de Durham, no Reino Unido.
A galáxia ID2299 está tão distante que a sua luz demora 9 bilhões de anos para chegar até nós - o que vemos agora aconteceu quando o Universo tinha apenas 4,5 bilhões de anos.
Cauda de maré
A ejeção de gás está acontecendo a uma taxa equivalente a 10.000 sóis por ano, removendo incríveis 46% do gás frio total existente na ID2299. Como a galáxia também está formando estrelas muito rapidamente, centenas de vezes mais rapidamente que a Via Láctea, o gás restante será rapidamente consumido em apenas algumas dezenas de milhões de anos.
A perda espetacular de gás parece estar sendo causada uma colisão entre duas galáxias, que eventualmente se fundiram para formar a ID2299. A pista que aponta para esse cenário é a associação do gás ejetado com uma "cauda de maré".
As caudas de maré são correntes alongadas de estrelas e gás que se estendem para o espaço interestelar e que são criadas quando duas galáxias se fundem, mas que são normalmente muito tênues para poderem ser observadas em galáxias distantes.
A maioria dos astrônomos acredita que os ventos causados pela formação estelar e a atividade de buracos negros nos centros de galáxias massivas são responsáveis por lançar para o espaço material que, de outro modo, seria utilizado na formação estelar, terminando assim com a capacidade das galáxias de formar novas estrelas. Contudo, estas novas observações sugerem que as fusões galácticas podem também ser responsáveis por ejetar para o espaço este "combustível" de formação estelar.
"O nosso estudo sugere que as ejeções de gás podem ter origem em fusões e que ventos e caudas de maré podem parecer muito semelhantes," explica Emanuele Daddi, coautora do trabalho. Por causa disso, algumas das equipes que anteriormente identificaram ventos lançados por galáxias distantes poderão de fato ter observado caudas de maré ejetando gás dessas galáxias. "Este fato pode nos levar a rever o que sabemos sobre como 'morrem' as galáxias distantes," acrescenta Daddi.