Com informações da ESA - 01/11/2011
Reentrada virtual
Os 520 dias de isolamento da tripulação da missão Mars500 chegarão ao fim no dia 4 de Novembro, quando a escotilha da "nave espacial"' será aberta pela primeira vez, depois de ter sido fechada em Junho do ano passado.
Os cientistas aguardam pelas análises finais enquanto a tripulação conta as horas até a liberdade.
Durante a missão de 17 meses de simulação de uma viagem a Marte, os seis homens fizeram inúmeras experiências: monitoraram seus cérebros, fizeram varreduras em corpos, coletaram todo o tipo de amostras e cuidaram da "nave".
A qualidade única do material recolhido até agora já deixou os cientistas satisfeitos. Mesmo assim eles estão ansiosos por trabalhar com o novo material que será obtido com a "chegada da nave".
Sobrevivência ao isolamento
A revelação dos resultados científicos completos vai demorar algum tempo, mas a principal questão já foi respondida - ou quase:
"A resposta é sim," diz Patrik Sundblad, especialista da ESA em ciências da vida.
"Sim, a tripulação consegue sobreviver ao isolamento obrigatório para uma viagem de ida e volta a Marte. Psicologicamente, somos capazes de aguentar.
"Além disso, esta investigação é muito importante para a compreensão de questões clínicas em terra.
"A tripulação teve os seus altos e baixos, mas isto já era esperado. De fato, estávamos contando com muito mais problemas, mas a equipe tem-se portado extraordinariamente bem.
"O mês de Agosto foi a fase mais difícil do ponto de vista mental: foi a fase mais monótona da missão, os amigos e a família estavam de férias e não mandavam tantas mensagens e a comida era pouco variada," explica o especialista.
O humor melhorou com a proximidade do final da missão, com o fluxo normal de mensagens depois do período de férias e, especialmente, com o regresso às comunicações em tempo real, em 15 de Setembro, terminado o retardamento artificial.
Simulação fiel
"A grande fidelidade da simulação foi um fator importante para o sucesso da experiência," ressalta Patrik.
"Simular uma missão a Marte, de uma forma tão real quanto possível em Terra, foi muito importante para a tripulação.
"Saber que esta missão está de fato ajudando a tornar possível uma verdadeira missão a Marte tornou esta experiência de longa duração num desafio mais fácil para a tripulação," afirmou.
Os verdadeiros astronautas terão de enfrentar desafios psicológicos adicionais. Eles estarão em perigo constante porque não podem simplesmente sair da nave espacial em caso de emergência.
Viajar até tão longe e ver a Terra transformar-se em mais um ponto brilhante entre tantas estrelas pode criar uma sensação de separação, que se junta a outros fatores de estresse.
A ausência de gravidade e a radiação são outros desafios.
Alguns fatores analisados podem ser explorados em terra, em estudos de pacientes acamados e em tripulações que ficam completamente isoladas na Antártida durante inverno.
"Até certo ponto estamos usando os mesmos questionários psicológicos no Mars500 que usamos com as tripulações da base Concordia durante o Inverno e em estudos com acamados," diz Patrik. "É muito interessante compará-los."
Cooperação
A missão Mars500 foi muito além do isolamento de seis homens - envolveu a cooperação internacional e a criação de toda uma infra-estrutura em torno da missão.
"A tripulação trabalhou muito bem, quer individualmente, quer em equipe, e a cooperação aqui fora tem sido extraordinária," nota Patrik.
"A Rússia, a China e a Europa tornaram possível esta experiência única.
"Esta é uma importante lição para uma futura missão a Marte: não se trata apenas da nave espacial e da sua tripulação, mas também da cooperação em Terra entre todas as equipes e agências espaciais internacionais," concluiu.