Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/09/2020
Quitina espacial
Com planos de revisitar a Lua e, eventualmente, enviar uma missão tripulada a Marte, as futuras missões de exploração espacial provavelmente envolverão uma estadia prolongada, ou talvez até mesmo assentamentos permanentes.
Para essas missões, a sobrevivência requer a satisfação das necessidades humanas básicas, com o abrigo e a proteção contra radiação despontando como preocupações básicas iniciais.
Um material que pode ser usado para atender a essas necessidades é a quitina, produzida e metabolizada por organismos na maioria dos reinos biológicos.
A quitina é um componente primário das paredes celulares dos fungos, do exoesqueleto dos artrópodes - como crustáceos e insetos - e das escamas de peixes e anfíbios. De fato, a quitina é o composto orgânico mais importante da Terra, depois da celulose.
Ng Shiwei e colegas da Universidade de Tecnologia e Design de Cingapura desenvolveram uma tecnologia de fabricação simples que comprova que a quitina também pode se tornar uma matéria-prima espacial, útil para produzir ferramentas e abrigos em Marte.
Segunda a equipe, a química é simples o suficiente para ser adequada para os primeiros assentamentos marcianos, permitindo extrair e fabricar um material estrutural com requisitos mínimos de energia e sem equipamentos especializados.
Material bioinspirado e sustentável
A equipe produziu o novo material combinando quitosana - uma quitina que passou por um processo de desacetilação - com um mineral projetado para imitar as propriedades do solo marciano e então usou o material quitinoso para construir uma ferramenta e um modelo de um habitat espacial.
O resultado é um compósito que a equipe chama de "biolito", em referência ao regolito, a mistura de pó e areia derivada de rochas e que compõe o solo não consolidado da Lua e de Marte.
Isso demonstra que o material permite a fabricação rápida de objetos que variam de ferramentas básicas talvez até abrigos rígidos, que poderiam sustentar humanos em um ambiente marciano, embora as demonstrações em larga escala ainda precisem ser realizadas.
"Contra a percepção geral, a fabricação bioinspirada e os materiais sustentáveis não são uma tecnologia substituta para os polímeros sintéticos, mas uma tecnologia plena que define um novo paradigma na manufatura e permite fazer coisas que são inatingíveis pelos equivalentes sintéticos. Aqui, nós demonstramos que eles são fundamentais não apenas para a nossa sustentabilidade na Terra, mas também para uma das próximas grandes conquistas da humanidade: nossa transformação em uma espécie interplanetária," vislumbra o professor Javier Fernandez, coordenador da equipe.