Com informações do ESO - 03/05/2016
Alvos ideais
Astrônomos do ESO (Observatório Europeu do Sul), instalado no Chile, descobriram três planetas em órbita de uma estrela anã muito fria situada a apenas 40 anos-luz da Terra.
Os três exoplanetas têm tamanhos e temperaturas semelhantes às de Vênus e da Terra e são os melhores alvos descobertos até hoje para procurar vida fora do Sistema Solar.
Mais importante, sendo os primeiros planetas descobertos em torno de uma estrela extremamente pequena e de luz fraca, eles poderão ser estudados em busca de sinais de vida com a tecnologia atual.
Michael Gillon e seus colegas da Universidade de Liège, na Bélgica, utilizaram o telescópio TRAPPIST para observar a estrela 2MASS J23062928-0502285, agora conhecida como TRAPPIST-1, descobrindo os três planetas pelo método do trânsito planetário, em que o brilho da estrela varia ligeiramente quando objetos passam entre a estrela e a Terra.
Mundos vermelhos
A TRAPPIST-1, localizada na constelação de Aquário, é uma estrela pequena e muito fria - ela é muito mais fria e mais vermelha do que o Sol e pouco maior do que Júpiter. Essas estrelas são bastante comuns na Via Láctea e vivem durante muito tempo, mas esta é a primeira vez que se descobriram planetas em torno de uma delas. Estima-se que 15% das estrelas vizinhas do Sol sejam desse tipo.
"Por que é que estamos tentando detectar planetas do tipo da Terra em torno das estrelas pequenas e frias da vizinhança solar? A razão é simples: os sistemas em torno destas estrelas minúsculas são os únicos locais onde conseguimos detectar vida num exoplaneta do tipo terrestre com a tecnologia atual. Por isso, se quisermos encontrar vida em outros lugares do Universo, é aqui que devemos começar a procurar," disse Gillon.
"Esta é realmente uma mudança de paradigma relativamente à população de planetas e ao caminho a ser seguido no sentido de encontrar vida no Universo. Até agora, a existência desses 'mundos vermelhos' em órbita de estrelas anãs muito frias era puramente teórica, mas nós descobrimos não apenas um único planeta isolado em torno de uma estrela vermelha fraca, mas um sistema completo de três planetas!" entusiasma-se Emmanuel Jehin, coautor da descoberta.
Procura por vida extraterrestre
Os astrônomos irão procurar sinais de vida ao redor dos três exoplanetas estudando o efeito que a atmosfera de cada um deles gera na luz da estrela que chega à Terra. Nos exoplanetas do tamanho da Terra em órbita da maioria das estrelas, mais brilhantes, este efeito desaparece no enorme brilho da estrela. No caso de estrelas vermelhas fracas e muito frias - como a TRAPPIST-1 - este efeito é suficientemente grande para poder ser detectado.
Os três exoplanetas têm tamanhos muito semelhantes ao da Terra. Dois deles têm períodos orbitais de cerca de 1,5 dia e 2,4 dias, e o terceiro planeta tem um período ainda não bem determinado, que pode ir de 4,5 a 7,3 dias.
"Com períodos orbitais curtos, os planetas encontram-se entre 20 a 100 vezes mais próximos da sua estrela do que a Terra se encontra do Sol. A estrutura deste sistema planetário é muito mais semelhante em escala ao sistema das luas de Júpiter do que ao Sistema Solar," explica Gillon.
Embora orbitem muito próximos da sua estrela anã, os dois planetas internos recebem apenas quatro e duas vezes, respectivamente, a quantidade de radiação que a Terra recebe do Sol, uma vez que a sua estrela é muito menos luminosa que o nosso Sol, o que justifica a expectativa de que existam regiões habitáveis nas suas superfícies. A órbita do terceiro planeta, o mais externo, não é ainda bem conhecida, mas provavelmente receberá menos radiação do que a Terra, embora talvez ainda suficiente para se encontrar na zona habitável do sistema planetário.