Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/01/2025
Aceleradores cósmicos de partículas
Os aceleradores cósmicos de partículas estão entre os maiores enigmas da cosmologia, acelerando continuamente partículas até energias impressionantes - o Pevatron, o maior acelerador natural de partículas conhecido, alcança energia de até 20 peta-elétron-volts (2015 elétron-volts).
A grande questão ainda por ser explicada reside em como os elétrons atingem níveis de energia tão elevados, ou relativísticos.
A resposta padrão hoje é conhecida como aceleração de Fermi, ou aceleração de choque difusivo, que descreve como as partículas ganham energia ao interagir com uma onda de choque, uma região onde um fluido se move com velocidades diferentes - ao atravessar a onda de choque, a partícula ganha energia cinética, sendo acelerada.
Mas há dois problemas: Primeiro, é muito mais comum no Universo encontrarmos ondas de choque sem colisão, e, segundo, esse mecanismo exige que os elétrons já estejam energizados acima de um limite de energia específico, para que possam ser então acelerados de forma eficiente pela aceleração de choque difusivo. O buraco na explicação - como os elétrons atingem essa energia inicial - é conhecido como "o problema da injeção".
Agora, usando dados dos observatórios Themis-Artemis, que estuda o ambiente de plasma espacial perto da Lua, Savvas Raptis e colegas das universidades Johns Hopkins, nos EUA, e Northumbria, no Reino Unido, descobriram que os elétrons podem sofrer sua aceleração inicial por meio da interação de vários processos em múltiplas escalas.
Acelerador natural no Sistema Solar
Tudo começou em 17 de dezembro de 2017, quando os instrumentos das sondas espaciais detectaram um fenômeno em larga escala, mas transitório, a montante do choque em arco da Terra, a fronteira magnética que se forma à medida que o vento solar, um fluxo constante de partículas carregadas emitidas pelo Sol, interage com o campo magnético da Terra. Essa interação cria uma onda de choque, similar à que se forma quando um objeto se move rapidamente através de um fluido.
Durante o evento, os elétrons na região frontal do choque, a área onde o vento solar é pré-perturbado por sua interação com o choque em arco, atingiram níveis de energia sem precedentes, ultrapassando 500 keV - os elétrons observados na região do choque preliminar tipicamente têm energias por volta de 1 keV.
Os dados indicam que esses elétrons de alta energia foram gerados pela interação de múltiplos mecanismos de aceleração, incluindo a interação dos elétrons com várias ondas de plasma, estruturas transitórias no abalo sísmico e com o choque em arco propriamente dito. Todos esses mecanismos atuaram juntos para acelerar os elétrons de baixas energias - por volta de 1 keV - até os 500 keV observados, resultando em um processo de aceleração de elétrons particularmente eficiente.
Do local ao cósmico
Esse mecanismo múltiplo abre novos caminhos para a compreensão da geração de raios cósmicos e oferece um vislumbre de como fenômenos de natureza local, dentro do nosso Sistema Solar, podem ajudar a entender os processos astrofísicos em todo o Universo.
"A maior parte da nossa pesquisa se concentrou em efeitos de pequena escala, como interações onda-partícula, ou propriedades de grande escala, como a influência do vento solar," comentou o professor Raptis. "No entanto, como demonstramos neste trabalho, ao combinar fenômenos em diferentes escalas, fomos capazes de observar sua interação que, em última análise, energiza partículas no espaço."
"Isso torna a estrutura que propusemos relevante para melhor compreensão da aceleração de elétrons até energias de raios cósmicos em estruturas astrofísicas a anos-luz de distância do nosso Sistema Solar, como em outros sistemas estelares, remanescentes de supernovas e núcleos galácticos ativos," completou seu colega Ahmad Lalti.