Com informações da New Scientist - 13/07/2020
Hidrogênio no lugar do petróleo
O hidrogênio está de volta. Ou, pelo assim se pretende.
Na semana passada, a Comissão Europeia anunciou uma nova estratégia para transformar o elemento mais abundante do Universo em um meio "alcançar uma ambição climática mais alta".
Já houve falsas largadas do hidrogênio antes, e grandes visões anunciadas de uma "economia do hidrogênio" não se concretizaram. Ciente disso, a União Europeia está adotando uma abordagem mais direcionada, lançando o hidrogênio como um meio de limpar indústrias difíceis de descarbonizar, como a siderurgia.
Caminhões trens e até navios movidos a hidrogênio também podem impulsionar a demanda pelo combustível.
Há apenas um grande problema. Embora o plano observe que o uso de hidrogênio não emite dióxido de carbono, também reconhece que a maior parte da sua produção hoje é bem suja. Globalmente, cerca de 96% do hidrogênio é produzido a partir de combustíveis fósseis, por meio de um processo conhecido como reforma a vapor do metano. Mesmo grande parte dos 4% restantes, produzidos usando água e eletrolisadores, é alimentada por usinas de carvão e gás. Os números são semelhantes na Europa, que produz cerca de 10 milhões de toneladas de hidrogênio por ano.
É por isso que a estratégia exige metas sobre o que se convencionou chamar de "hidrogênio verde", ou "hidrogênio renovável", produzido usando eletrolisadores alimentados por fontes renováveis de eletricidade, como solar e eólica.
Transição para a economia do hidrogênio
Segundo o relatório, a transição dos combustíveis fósseis para o hidrogênio exigirá uma abordagem gradual, em fases:
Mesmo alguns dos mais entusiastas defensores da economia do hidrogênio acreditam que são metas ambiciosas demais, especialmente devido à queda na demanda de eletricidade causada pela pandemia de coronavírus, fazendo com que a queda na atividade econômica deixe energia sobrando.
Os ambientalistas também não gostaram do apoio ao chamado "hidrogênio cinza", produzido com combustíveis fósseis. Mesmo contemplando tecnologias para capturar e armazenar o carbono, os ambientalistas afirmam que isso dá uma "sobrevida para a decadente indústria de combustíveis fósseis".
Mas alguns especialistas em energia acham correto incluir o hidrogênio cinza devido à grande quantidade de hidrogênio de baixo carbono necessária e ao custo relativamente alto dos eletrolisadores.
Energia limpa
Outro desafio para fazer o plano decolar consiste em que uma economia do hidrogênio envolve vários aspectos.
Por exemplo, ainda que a Europa consiga construir os eletrolisadores necessários - já existem fabricantes desses equipamentos na maioria dos principais países europeus - resta a questão de saber se haverá parques eólicos e painéis solares suficientes para alimentá-los e manter seu hidrogênio limpo.
A União Europeia também lançou a Aliança pelo Hidrogênio Limpo para unir países, regiões, indústria e outras organizações para tornar a estratégia uma realidade. Os ambientalistas se alarmaram porque, embora a Aliança tenha no conselho de administração empresas de combustíveis fósseis, como a Shell, a entidade não incluiu nenhuma organização sem fins lucrativos.
Será que este plano será suficiente para tornar realidade desta vez a tão esperada economia do hidrogênio? A estratégia parece apontar na direção certa e pode ser bem-sucedida se tiver um apoio amplo dos diversos países. O foco na limpeza da indústria, por exemplo, é algo novo e lida com uma demanda que dificilmente desaparecerá da agenda devido às mudanças climáticas.