Luiz Sugimoto - 16/07/2010
Tecnologia na educação
Ética e multimídia. Foi este o tema escolhido pelo filósofo Mario Sergio Cortella para a conferência de abertura do 5º Seminário Nacional O Professor e a Leitura do Jornal, que se realiza esta semana na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Nenhum professor, seja da escola pública ou privada, está preparado para trabalhar com as diferentes mídias atuais. Quando o Brasil foi penta na Copa de 2002, não existia a palavra 'blog'; hoje é criado um blog por minuto. São plataformas novas, que trazem novas formas de pensar, a fim de não confundir informação com conhecimento. Precisamos ter a humildade pedagógica de quem começa a aprender sobre a questão. A velocidade é alta e estamos apenas no início da estrada," afirmou o filósofo.
Na opinião de Cortella, docente da PUC-SP, os processos escolares não devem se adaptar às inovações e sim integrá-las ao seu cotidiano. "Adaptar é postura passiva, enquanto integrar pressupõe metas de convergência. As tecnologias mais recentes podem fazer parte do trabalho pedagógico escolar desde que utilizadas como ferramentas a serviço de objetivos educacionais que estejam antes claros para a comunidade e que a ela sirvam. Tecnologia em si não é sinal de mentalidade moderna; o que moderniza é a atitude e a concepção pedagógica e social que se usa."
Tecnologia não é neutra
O filósofo insiste na visão de que a tecnologia não é uma mera ferramenta. "Ela é instrumento político de ação, na medida que interfere na vida da sociedade. Não há neutralidade no uso de qualquer tecnologia, seja de natureza ideológica, científica ou preconceituosa. Isso significa que é preciso proteger a utilização da tecnologia com princípios éticos - e o mais importante deles talvez seja a preservação de uma convivência coletiva decente, aquela que não diminui a vida alheia".
Cortella defende o amparo da tecnologia por valores éticos para evitar o que chama de biocídio - o assassinato da vida nas suas múltiplas formas. "A tecnologia, por ser também ferramental (embora não exclusivamente), pode ajudar a proteger a vida no seu conjunto, ou então contribuir para a sua destruição, com o falecimento do futuro, a desertificação da esperança e a anulação de uma história. E o professor, para amparar a tecnologia, deve ter três qualidades: generosidade mental, repartindo o que sabe; coerência ética, praticando o que ensina; e humildade intelectual, perguntando o que ignora. Assim, a tendência será de que o biocídio fique longe do nosso horizonte".