Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/06/2018
Contaminação espacial
Uma equipe de estudantes descobriu por que os protocolos mais rígidos do mundo, desenvolvidos pelos maiores especialistas no assunto, não conseguem evitar que microrganismos viajem ao espaço a bordo das naves espaciais, colocando em dúvida os resultados dos equipamentos destinados e encontrar vida fora da Terra.
Apesar do uso de salas ultralimpas e procedimentos de extremo rigor, nossas naves, sondas e robôs espaciais continuam indo ao espaço levando uma quantidade baixa, mas persistente, de "contaminação biológica" - vírus, bactérias, fungos etc.
E essa vida microscópica tipicamente terráquea pode destruir os esforços para atestar a existência de vida em outros corpos celestes.
A NASA, por exemplo, recentemente reconheceu as dúvidas em relação aos protocolos de descontaminação das empresas aeroespaciais que ela contrata ao desviar a rota do robô Curiosity em Marte para evitar o risco de contaminar o que poderiam ser indícios de água.
Microbioma das espaçonaves
Agora, dois professores e uma sala inteira de alunos da Universidade Cal Poly Pomona, nos EUA, descobriram que os microrganismos estão escapando dos mais rígidos mecanismos de descontaminação tirando proveito dos próprios produtos usados na limpeza.
Análises genéticas moleculares mostram que as salas limpas abrigam uma coleção variada de microrganismos que inclui bactérias, archaea e fungos, explicou o professor Rakesh Mogul, afirmando que essa população, conhecida como "microbioma das espaçonaves", sobrevive nas salas limpas da própria NASA e de seus contratados, apesar da implementação de uma variedade de medidas de descontaminação.
A equipe se concentrou no Acinetobacter, o gênero de bactérias dominante no microbioma das espaçonaves. Foram analisadas várias cepas que foram isoladas das instalações onde foram construídas as sondas Mars Odyssey e Phoenix, a primeira a confirmar a existência de gelo e neve em Marte.
Eles descobriram que, quando se deparam com condições muito restritas de nutrientes, a maioria das cepas testadas biodegrada os próprios agentes de limpeza usados durante a montagem da espaçonave. As culturas extraídas das salas limpas crescem até mesmo no álcool etílico, que é usado como única fonte de carbono, apresentando uma tolerância significativa ao estresse oxidativo. Isso é particularmente importante porque o estresse oxidativo está associado a ambientes dessecantes e de alta radiação, semelhantes aos encontrados em Marte.
As cepas testadas também foram capazes de biodegradar álcool isopropílico e Kleenol 30, dois outros agentes de limpeza comumente usados, com esses produtos servindo como fontes de energia para o microbioma das espaçonaves.
Para a proteção planetária - proteger outros corpos celestes da contaminação de microrganismos terrestres, evitando falsos positivos dos sistemas de detecção de vida - isso indica que etapas de limpeza mais rigorosas precisarão ser desenvolvidas, sobretudo para missões focadas na detecção de vida.
Uma medida inicial sugerida pela equipe é o uso de reagentes de limpeza diferentes em sistema rotativo para controlar a carga biológica, impedindo que os microrganismos se acostumem com um produto e o colonizem.
Aprender fazendo
A ideia da pesquisa veio de Mogul e seu colega Gregory Barding, que desenvolveram o projeto como uma técnica de ensino para estudantes de graduação em química.
"Nós desenhamos o projeto para dar aos alunos uma experiência prática - e para dar apoio à filosofia de aprender-fazendo da nossa universidade. Os alunos fizeram a pesquisa, principalmente como projetos de tese nas áreas de enzimologia, microbiologia molecular e química analítica," contou Mogul. Além dos dois professores, 22 alunos de graduação assinam o artigo científico com os resultados da pesquisa.