Com informações da Agência Fapesp - 14/04/2011
O telescópio espacial Kepler, lançada em março de 2009 pela Nasa, a agência espacial norte-americana, tem-se mostrado um dos mais valiosos instrumentos para os astrônomos.
Em fevereiro, artigo de capa da Nature destacou a descoberta de um sistema formado por uma estrela parecida com o Sol, com seis planetas em trânsito (que passam pela linha de visão entre a Terra e a estrela).
Na mesma ocasião, as observações registraram a presença de 54 planetas na zona habitável. Logo a seguir, foi a vez da descoberta de dois planetas compartilhando a mesma órbita.
Agora é a vez de outra revista, a Science, trazer outras novidades da sonda, em dois artigos.
Estrelas pulsantes
Novos dados enviados pelo telescópio Kepler estão fornecendo aos cientistas a oportunidade de conhecer novas estrelas distantes e sua estrutura interna de modo inédito.
William Chaplin, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e seus colegas, observaram 500 estrelas no campo de visão da sonda que pulsam - promovendo variações de seu brilho - de forma semelhante ao Sol.
Até então, os cientistas conheciam apenas 25 estrelas com oscilações do tipo. Já se sabia que o Sol pulsa, com uma frequência de poucos minutos - mas a variação de seu diâmetro varia apenas alguns poucos metros, e não havia instrumentos tão poderosos quanto o Kepler que pudesse observá-la mais de perto e, sobretudo, registrar o fenômeno com precisão em outras estrelas.
O estudo dessas pulsações, ou oscilações, permite conhecer informações básicas sobre as estrelas, como massa, raio ou idade, bem como obter pistas sobre suas estruturas internas.
Modelos inconsistentes
Com essas medidas, o grupo de Chaplin pôde testar algumas teorias da evolução estelar.
Os pesquisadores descobriram que os raios das estrelas analisadas se encaixaram com as expectativas teóricas, mas que, surpreendentemente, a distribuição das massas entre essas estrelas era muito diferente do que se estimava.
Diante dessa inconsistência, o grupo concluiu que os modelos atuais de formação estelar, particularmente na questão da relação entre massa e raio, precisam ser revistos.
Sistema estelar ternário
No outro artigo, Aliz Derekas, da Universidade Eötvös, na Hungria, e seus colegas, usaram dados obtidos pela Kepler para descobrir um sistema de três estrelas.
Denominado HD 181068, o sistema conta com uma estrela do tipo gigante vermelha e duas anãs vermelhas.
Os pesquisadores verificaram que o sistema também tem tipos diferentes de eclipses. Segundo eles, essas variações fornecem informações sobre a geometria do sistema triplo que poderão ser usadas para testar futuros modelos de evolução estelar.
Era de ouro
A Kepler está em órbita do Sol e carrega um fotômetro para medir alterações no brilho de estrelas. O equipamento inclui um telescópio com um pouco menos de 1 metro de diâmetro conectado a uma câmera digital com 95 megapixels.
O fotômetro da sonda está continuamente apontado para a região Cygnus-Lyra, na Via Láctea. Os cientistas estimam que, nos três anos e meio estimados para a duração da missão, a Kepler possa observar continuamente mais de 170 mil estrelas.
Por meio de pequenas variações no brilho das estrelas, a sonda é capaz de identificar planetas que possam ser parecidos com a Terra.
A quantidade de dados enviados pela Kepler é tamanha que Chaplin e colegas afirmam em seu artigo que a sonda deu início a uma "era de ouro para a física estelar".