Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/08/2020
Fósforo nas estrelas
Duas descobertas, uma na Terra e outra no espaço, colocaram o elemento fósforo (P) no centro das atenções sobre o surgimento da vida aqui e em outros locais espalhados pelo espaço.
Uma equipe do Instituto de Astrofísica das Canárias e da Universidade da Coruña (Espanha) descobriu 15 estrelas ricas em fósforo, constituindo uma classe de corpos celestes que nunca tinha sido identificada antes.
O fósforo é fundamental para a transferência de energia das células e para o desenvolvimento de suas membranas, além de integrar as moléculas de DNA e RNA.
Para Thomas Masseron e seus colegas, isso pode não apenas demonstrar a origem desse elemento químico presente na Terra, como também poderia implicar que a vida é mais comum no Universo do que pensávamos.
"Quase todos os elementos químicos foram produzidos por reações nucleossintéticas em vários tipos de estrelas e foram acumulados ao longo da nossa história cósmica. Entre esses elementos, a origem do fósforo é de extremo interesse, pois ele é conhecido por ser essencial para a vida como a que conhecemos na Terra. No entanto, os modelos atuais de evolução química (galáctica) subestimam a quantidade de fósforo que observamos [de fato] em nosso Sistema Solar," escreve a equipe.
Essas estrelas ricas em fósforo mostram que há mais coisas a se acrescentar a esses modelos. Os pesquisadores ressaltam que este é mais um indício de que a Terra não é "especial", em termos de ser um canteiro fértil para a vida; em vez disso, a vida extraterrestre poderia ser mais comum do que os cientistas acreditam.
Fósforo na Terra
Kentaro Terada e seus colegas da Universidade de Osaka, no Japão, fizeram uma descoberta relativa ao fósforo bem aqui no nosso quintal.
Usando dados da sonda espacial Kaguya, que orbitou a Lua por cerca de um ano e meio, eles descobriram que, há cerca de 800 milhões de anos, um enorme asteroide se partiu, tendo seus fragmentos bombardeado a Terra e a Lua - e os locais de impacto são particularmente ricos em fósforo.
Embora o efeito dessa chuva de asteroide esteja bem estampado na Lua, mais especificamente em suas crateras, a intensidade com que seus pedaços caíram na Terra foi 20 vezes maior - a diferença é que os rastros dos impactos foram"lavados" pela intensa dinâmica da crosta e da atmosfera terrestres.
Fósforo e a vida
O consenso científico atual é que o fósforo chegou aos oceanos da Terra por meio dos vulcões, promovendo o florescimento de formas de vida simples já existentes - embora essa hipótese não lide com o problema da origem primeira do fósforo, que só poderia ter sido produzido em estrelas, e não aqui na Terra.
Terada e seus colegas estão propondo que, em lugar da atividade vulcânica, o fósforo pode ter chegado à Terra justamente nesse evento cataclísmico, envolvendo um asteroide de 100 quilômetros de diâmetro, que explodiu devido a forças de maré e espalhou destroços pela Lua e pela Terra.
A equipe calcula que esse impacto foi de 30 a 60 vezes maior do que o causado pelo meteorito que criou a cratera mexicana Chicxulub, alegadamente responsável pela extinção dos dinossauros. E o impacto teria se dado pouco antes do período Criogeniano, que foi uma época de grandes mudanças ambientais e biológicas que catalisaram a proliferação da vida em nosso planeta.
"Conhecemos a qualidade e a quantidade dos corpos celestes que colidiram com a Terra, e também é um fato que uma enorme quantidade de fósforo foi trazida para o oceano do espaço extraterrestre, uma quantidade mais de dez vezes superior ao que havia no oceano naquela época. Podemos dizer com segurança que, como resultado, o ambiente marinho mudou.
"Não contestamos esse cenário [da teoria anterior]. Mas oferecemos uma nova visão de que o aumento acentuado de fósforo nos oceanos teve origem extraterrestre e foi causado por uma chuva de asteroides," concluiu Terada.