Com informações do MAPA - 13/03/2017
Conversão de efluentes
A Embrapa Agroenergia identificou espécies de microalgas que podem ser cultivadas em resíduos líquidos de processamento em agroindústrias, transformando os efluentes em matéria-prima renovável para biocombustíveis, rações, cosméticos e vários outros produtos.
A pesquisa, que durou três anos, investigou efluentes como a vinhaça, formada na produção de açúcar e etanol de cana-de-açúcar, e o pome, gerado no processamento de dendê, aproveitado na fertirrigação das plantações.
Em vez das utilizações atuais, passar a utilizar esses efluentes como meio para produzir as microalgas deverá agregar valor às cadeias produtivas da cana e do dendê, produzindo mais biomassa e óleo para obter energia e bioprodutos.
Genética para aumentar produtividade
Já existem pelo menos quatro empresas no Brasil produzindo microalgas: duas no Nordeste, com foco em nutrição humana e animal, e duas no interior de São Paulo, atendendo indústrias de cosméticos e também de rações, além de projetos para tratamento de efluentes.
Um maior avanço do setor depende do desenvolvimento de tecnologias sobretudo para a redução do custo de produção. Isto é essencial para alcançar mercados que necessitam de grandes volumes e de preços baixos, como é o caso dos biocombustíveis - um estudo encomendado pelo governo dos Estados Unidos mostrou que o uso de linhagens modificadas geneticamente chega a reduzir em 85% o custo de produção.
O primeiro trabalho da equipe da Embrapa visava encontrar espécies de microalgas capazes de crescer na vinhaça, em ambientes industriais e em biomas brasileiros (Amazônia, Pantanal e Cerrado). Duas espécies foram identificadas que podem ser cultivadas nesse efluente, com bom rendimento - uma delas era desconhecida pelos cientistas. A análise dos componentes da biomassa das duas microalgas indica maior concentração de carboidratos e de proteínas do que de lipídeos e carotenoides, que as tornam mais adequadas para a produção de etanol do que de biodiesel - além dos biocombustíveis, elas podem ser utilizadas na fabricação de rações.
As duas espécies selecionadas realizam fotossíntese, mas também utilizam a matéria orgânica da vinhaça para crescer. Não chegam a reduzir significativamente a carga orgânica e, por isso, não podem ser utilizadas isoladamente para tratamento do efluente. Mas possibilitam que a vinhaça seja usada para fertirrigação de canaviais após a retirada das microalgas.
A equipe da Embrapa e de várias universidades está empenhada agora em construir ferramentas que permitam a modificação genética das espécies selecionadas para crescimento na vinhaça e no pome, com o objetivo de potencializar o rendimento das microalgas.
Microalgas
As microalgas são organismos unicelulares e microscópicos que vivem em meios aquáticos e têm característica curiosa: não são plantas, mas são capazes de realizar fotossíntese e de se desenvolver utilizando luz do Sol e gás carbônico. Reproduzem-se muito rapidamente, proporcionando grande quantidade de óleo e de biomassa. A produtividade pode ser de dez a 100 vezes maior do que a de cultivos agrícolas tradicionais. Isso chamou a atenção de setores que necessitam de grandes quantidades de matéria-prima, como os biocombustíveis.
Os óleos produzidos por algumas espécies de microalgas quase sempre contêm compostos muito valiosos como, por exemplo, ômega 3 e carotenoides. Por isso, elas também encontram espaço em indústrias que atendem nichos de mercado e pagam mais caro por matérias-primas com propriedades raras. É o caso dos cosméticos e dos suplementos alimentares.