Agostinho Rosa - 31/03/2008
Substituir os foguetes por um elevador espacial é uma idéia fundamentalmente simples: estique um cabo suficientemente longo para que ele atinja o espaço, além da atmosfera terrestre, e a força centrífuga se encarregará de mantê-lo tensionado. A seguir é só construir as cabines, que utilizarão o cabo para levar cargas e passageiros para o espaço.
Possível, mas impraticável hoje
Entre a idéia e a prática, contudo, há mais dificuldades e desafios do que soluções à vista. Agora, um pesquisador tcheco publicou um artigo que afirma que as vibrações a que o cabo estaria sujeito seriam tão grandes que, para que ele se mantenha firme no lugar, será necessário colocar foguetes em vários pontos de sua extensão para estabilizá-lo.
A se confirmarem os cálculos do professor Lubos Perek, este seria o primeiro entrave realmente sério à idéia, capaz mesmo de inviabilizá-la. Os engenheiros acreditam que a melhor forma de propulsão do elevador seria por meio de feixes de raios laser disparados da superfície. Esta idéia parte do princípio de que o cabo estará livre e tensionado.
A instalação dos foguetes e de suas estruturas de suporte seria extremamente difícil, além do que eles representariam uma carga adicional para o cabo. Isto sem contar os problemas logísticos de manutenção e reabastecimento dos foguetes. Mas o maior problema seria como fazer com que o elevador passe por estas estruturas com foguetes ao longo do cabo.
Avaliação da NASA
A NASA promoveu um estudo detalhado da idéia do elevador espacial em 2003, incorporando os últimos avanços tecnológicos e as melhores simulações computadorizadas para avaliar a viabilidade de sua construção. Os pesquisadores são unânimes em afirmar que ainda não dispomos das diversas tecnologias necessárias para sua construção, mas não foi encontrada nenhuma dificuldade que condenasse a idéia como inviável para o futuro.
Nanotubos não são a solução
A descoberta dos nanotubos de carbono pelo cientista japonês Sumio Iijima, em 1991, agitou a comunidade de cientistas que sonham com a construção do elevador espacial, em razão da extrema resistência desses minúsculos canos de carbono. Contudo, a força dos nanotubos só vale para nanotubos individuais e sem defeitos.
Os maiores nanotubos de carbono hoje construídos não passam de alguns milímetros de comprimento e estão longe de estarem livres de defeitos estruturais. Tecê-los na forma de fibras e cabos não é a solução, porque então a resistência do cabo dependeria das forças eletrostáticas que mantêm os fios unidos e não mais equivaleria à resistência estrutural nativa dos nanotubos.
Força para os idosos
O recentemente falecido Arthur Clarke, cientista e autor de ficção científica, utilizou o elevador espacial em algumas de suas obras. No futuro que ele vislumbrava, o elevador não era apenas um cabo por onde subia uma cabine. Ao longo do cabo havia estruturas parecidas com andares de edifícios, onde pessoas recebiam tratamentos de saúde e até residiam de forma definitiva.
A população da Terra, com um número crescente de idosos, encontrava nos andares espaciais formas de enfrentar problemas como a debilidade física ou dificuldades de saúde bem atuais, como a osteoporose e a artrite, e ainda continuar a desfrutar de uma vida saudável e desempenhar papéis úteis para a sociedade. A gravidade cada vez menor, à medida em que se subia pelo elevador, representaria uma menor carga para a estrutura física das pessoas, permitindo-as contrabalançar os anos simplesmente subindo alguns andares.
Questionamentos
A dificuldade imposta pelos cálculos do Dr. Perek ainda não é definitiva. Vários outros cientistas se manifestaram em desacordo com sua teoria e deverão publicar artigos discutindo o assunto. Ao final, tudo o que estará decidido será se poderemos continuar ou não sonhando com um dia em que ir ao espaço será tão simples quanto apertar o botão do elevador.