Redação do Site Inovação Tecnológica - 08/05/2018
Inteligências não-terrestres
Um dos problemas que há muito tempo intriga os especialistas em cosmologia é como detectar possíveis sinais de vida extraterrestre: Será que estamos realmente olhando na direção certa?
Talvez não, de acordo com Gabriel de la Torre e Manuel Garcia, da Universidade de Cádiz, na Espanha.
"Quando pensamos em outros seres inteligentes, tendemos a vê-los a partir da nossa peneira perceptiva e de consciência; no entanto, estamos limitados pela nossa visão sui generis do mundo, e é difícil admiti-lo," disse Gabriel.
Para começar, a dupla prefere evitar os termos "extraterrestres" ou "alienígenas" por suas conotações hollywoodianas. Eles preferem usar um termo mais genérico: "não-terrestres".
A seguir, eles propõem que nossa própria neurofisiologia, psicologia e consciência podem desempenhar um papel importante na busca por civilizações não-terrestres - um aspecto que consideram ter sido negligenciado até agora.
"O que estamos tentando fazer com essa diferenciação é contemplar outras possibilidades. Por exemplo, seres de dimensões que nossa mente não consegue apreender; ou inteligências baseadas nas formas escuras de matéria ou energia, que compõem quase 95% do Universo e que estamos apenas começando a vislumbrar. Existe até a possibilidade de que outros universos existam, como os textos de Stephen Hawking e outros cientistas indicam," contextualiza Gabriel.
Efeito gorila cósmico
Para demonstrar sua teoria, os pesquisadores foram buscar inspiração em um experimento bem conhecido, que apresenta jovens brincando com uma bola e pede que o observador se concentre em contar os passes - concentrada na contagem dos passes, a maioria das pessoas não percebe quando um personagem cruza o palco vestido de gorila.
Para ver se algo semelhante poderia estar acontecendo conosco quando tentamos descobrir sinais inteligentes não-terrestres, os dois pesquisadores fizeram um experimento com 137 pessoas, que tinham que distinguir fotografias aéreas com estruturas artificiais (prédios, estradas, etc.) de outras com elementos naturais (montanhas, rios, etc.). Em uma das imagens, um pequeno personagem disfarçado de gorila foi inserido para ver se os participantes percebiam.
Os resultados mostraram o mesmo efeito gorila: o personagem inesperado passou despercebido. Vale dizer, se ali houvesse um ET de um tipo totalmente inesperado, poucos o teriam visto.
"Além disso, nossa surpresa foi maior porque, antes de fazer o teste para ver a cegueira não-intencional, avaliamos os participantes com uma série de perguntas para determinar seu estilo cognitivo (se eles eram mais intuitivos ou racionais), e acontece que os indivíduos intuitivos identificaram o gorila na nossa foto mais vezes do que os mais racionais e metódicos.
"Se transferirmos isso para o problema da busca por outras inteligências, não-terrestres, surge a questão sobre se nossa estratégia atual pode resultar em não percebermos o gorila. Nossa concepção tradicional de espaço é limitada pelo nosso cérebro, e podemos ter os sinais lá em cima e sermos incapazes de vê-los. Talvez não estejamos olhando na direção certa," disse Gabriel.
Vendo onde não há e não vendo onde há
Outro exemplo apresentado no artigo da dupla é uma estrutura aparentemente geométrica que pode ser vista nas imagens de Occator, uma cratera do planeta anão Ceres famosa por seus pontos brilhantes.
"Nossa mente estruturada nos diz que essa estrutura parece um triângulo com um quadrado dentro, algo que teoricamente não é possível em Ceres, mas talvez nós estejamos vendo coisas onde não há nada, o que na psicologia se chama pareidolia," disse Gabriel.
Um exemplo similar seriam as formações de Marte, que continuam sendo atribuídas pela maioria dos cientistas a correntes de água, embora vários estudos científicos tenham demonstrado que vento e areia explicam bem todas elas, eliminando o conhecido "paradoxo da água de Marte".
Será que simplesmente queremos ver os sinais de água por estamos acostumados com eles? Estariam os cientistas sendo vítimas do seu próprio remédio?
Os dois neuropsicólogos apontam outra possibilidade: "O oposto também pode ser verdade. Podemos ter o sinal à nossa frente e não percebê-lo ou sermos incapazes de identificá-lo. Se isso acontecesse, seria um exemplo do gorila cósmico. Na verdade, pode já ter acontecido no passado ou pode estar acontecendo exatamente agora."