Redação do Site Inovação Tecnológica - 16/12/2021
Toque à distância
Mike Salvato e seus colegas da Universidade de Stanford fazem questão de admitir que sua tecnologia ainda está dando os primeiros passos, e que muito há a ser feito, mas eles também não escondem seus projetos futurísticos.
A ideia é construir um dispositivo háptico que permita a troca de toques entre pessoas e entre pessoas e robôs, sem que seja realmente necessário encostar na pessoa ou na máquina.
A háptica está para o sentido do tato assim como a óptica está para o sentido da visão, e as técnicas baseadas nela prometem novas maneiras de interagir com objetos virtuais, formas avançadas de teleconferência e até mesmo capacitar cirurgiões para realizar procedimentos remotamente.
Mas a ideia de Salvato, inspirada nas dificuldades do distanciamento físico imposto pela pandemia, é que as pessoas também possam "trocar feedbacks táteis" remotamente.
As vibrações e sons de diversos tipos que nossos celulares emitem podem ser exemplos bem rudimentares de "toques" que os aparelhos nos dão.
Mas a ideia dos pesquisadores é transmitir emoções.
Interpretando os toques
Transmitir remotamente todas as nuances sutis do toque social pode eventualmente ser possível, mas existem alguns desafios para chegarmos a isso. Primeiro, é preciso descobrir o que é realmente um toque social e decifrar como alguém interage fisicamente com um parceiro para transmitir felicidade, medo, bondade e assim por diante.
A seguir, o toque do emissor precisa ser "traduzido" - suas pressões, movimentos e ondulações exatas - em sinais que possam ser transmitidos. Por fim, será necessário construir dispositivos vestíveis que possam receber os sinais por ondas de rádio e "entregar" uma versão aproximada das sensações originais.
Não é exatamente fácil, mas a equipe deu seus primeiros passos.
A prova de conceito para um dispositivo de "háptica social" consiste em espécies de mangas de camisa, mas na forma de abraçadeiras artesanais, dotada de sensores (para interpretar os toques) e de pequenos atuadores (para devolver os toques) costurados por dentro. Ao acionar esses atuadores em padrões distintos, a equipe foi capaz de dar os voluntários sensações que eles conseguem identificar como tendo um conteúdo emocional específico.
O dispositivo ainda não imita o toque social com precisão, mas isso pode não ser necessário, dizem os pesquisadores: A pessoa receber a mensagem e compreender a intenção do toque que ele proporciona pode ser o suficiente. "Ele só precisa criar uma ilusão tátil. Pode parecer que alguém está roçando seu braço, mas na verdade vem de alguns poucos atuadores que se movem de uma maneira particular," disse a professora Allison Okamura.
Emojis hápticos
Para criar um alfabeto de toques que pudesse ser transmitido, a equipe criou cenários - ambientes físicos - onde voluntários que se conheciam, como parceiros românticos e amigos próximos, interagiam em ambientes que os faziam viver cenas de felicidade, cansaço, tristeza e até agressividade, cenas essas que exigiam que eles se tocassem segundo cada situação - os toques eram sempre sobre as abraçadeiras.
Salvato desenvolveu um algoritmo que analisa os sinais dos sensores que estavam sendo tocados pelos voluntários em cada situação. O algoritmo então usou os dados para "comprimir" cada gesto, dividindo-o em sinais que podem ser enviados para a manga e acionar seus atuadores. Esses atuadores recebem os sinais e agem sobre o braço do usuário, em movimentos que imitam apertar, sacudir ou bater.
Os testes consistiram em que os voluntários vestissem essa manga e, ao receber as informações de toque gravadas no experimento inicial, tentassem reconhecer a intenção emocional. "Na verdade, funcionou muito melhor do que eu pensava," contou Salvato.
O pesquisador chama esse tipo de toque abreviado e truncado de "emoji háptico": Assim como os conhecidos pictogramas, o emoji háptico não transmite uma mensagem completa, mas fornece informações suficientes para que se saiba o que seu remetente pretendia.
O próximo passo será dotar a tecnologia de capacidade de operação em tempo real, já que os emojis hápticos enviados foram gravados previamente no primeiro experimento.
"Nossa intenção está aqui no mundo real. Este trabalho não foi feito para substituir o toque, mas para aprimorá-lo," disse a professora Heather Culbertson, coordenadora da pesquisa. "Ele se situa onde o toque real não pode existir, da mesma forma que uma videochamada ou reunião virtual pode ajudar a recriar uma experiência pessoal se estivermos separados de nossos entes queridos pela covid-19 ou por milhares de quilômetros. Em última instância, queremos criar dispositivos que ajudem as pessoas a se comunicar e aproximá-las."