Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/10/2013
Os cientistas e os diamantes
Parece que os cientistas também gostam muito de diamantes.
Afinal de contas, eles, os diamantes, podem garantir que eles, os cientistas, brilhem rapidamente e sem fazer muitas lapidações.
Em 2010, analisando dados preliminares, cientistas ligados à NASA disseram que um planeta de carbono teria montanhas de diamantes.
Em 2012, a mesma equipe voltou à carga, afirmando que o exoplaneta "55 Câncer e" poderia ter o equivalente a "três Terras" de diamante.
A ideia parece muito interessante e romântica, o suficiente para render manchetes nos jornais do mundo todo.
Diamantes falsos
Muito menos glamourosa foi a análise feita por uma equipe internacional, com participação de uma brasileira, mostrando que a relação entre carbono e oxigênio na estrela hospedeira desse pretenso planeta de diamante é muito menor do que Nikku Madhusudhan e seus colegas haviam calculado.
"O artigo de 2010 concluiu que 55 Câncer, a estrela que hospeda cinco planetas, tem uma taxa carbono/oxigênio maior do que um. Esta observação ajudou a motivar um artigo no ano passado sobre o planeta mais interno do sistema, o 55 Câncer e," contextualiza Johanna Teske, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
Foi essa taxa carbono/oxigênio que levou a equipe ligada à NASA a afirmar que o planeta era de diamante.
"Entretanto, nossa análise faz isso parecer menos provável porque a estrela hospedeira não parece ser tão rica em carbono como se pensou anteriormente," disse Teske.
Os dados atuais mostram que a estrela 55 Câncer contém quase 25% mais oxigênio do que carbono, o que é muito mais próximo do que ocorre no Sol, que tem 50% menos carbono do que oxigênio - e os dados da 55 Câncer deverão mudar conforme novas observações são realizadas.
"Então, em termos dos dois blocos de informação fundamentais usados para a proposta inicial do 'planeta de diamante' - as medições do exoplaneta e as medições da estrela - as medições da estrela não confirmam mais isso," conclui a pesquisadora.
O novo estudo, que mostra que o planeta de diamante era falso, tem a coautoria da brasileira Kátia Cunha, do Observatório Nacional do Rio de Janeiro.
Chuva de diamantes?
Agora, Kevin Baines e Mona Delitsky, da Universidade Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos - também ligados à NASA - afirmam que pode chover diamantes em Júpiter e Saturno.
A dupla chega a calcular o tamanho dos valiosos "pingos de chuva de brilhantes" - eles seriam diamantes com até um centímetro de diâmetro.
Segundo eles, os diamantes se formariam em Júpiter e Saturno quando uma chuva de carbono se precipitasse nas elevadas pressões das profundezas dos planetas gasosos - entre 6.000 e 30.000 km.
Então, será que finalmente encontramos uma fonte de diamantes espaciais e, desta vez, muito mais próxima de nós?
Pelo menos por enquanto, talvez seja melhor não comprar ações de qualquer mineradora espacial que pretenda tentar coletá-los.
Isso porque os dois cientistas fizeram seus cálculos sobre a pretensa chuva de diamantes em Júpiter e Saturno usando carbono puro!
O que parece haver no planeta é uma espécie de fuligem, gerada pela ação de raios sobre o gás metano. Essa fuligem é um material sobre o qual pouco se sabe, se é que ele chega a existir realmente.
Além disso, as atmosferas desses planetas são ricas em hidrogênio e hélio, contendo ainda uma multiplicidade de outros elementos, o que coloca o ambiente muito longe de reproduzir as condições teóricas do carbono puro sob alta pressão.
O artigo da dupla ainda não foi aceito para publicação em uma revista científica, mas já rendeu manchetes, entrevistas e o brilho tentador da fama.
Talvez, no futuro, realmente cheguemos a encontrar planetas de diamantes, nuvens de diamantes ou o que seja - mas lembre-se então de dar o crédito adequado para os cientistas que consigam demonstrar suas hipóteses com algo além de um polimento superficial.