Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/03/2024
Exceção à Lei de Fourier
Tida por décadas como uma área de conhecimento consolidado, a condução de calor de repente virou uma das mais cheias de novidades, exigindo mudanças constantes nos livros-textos - embora a segunda lei da termodinâmica continue bem (veja uma lista com as novidades mais recentes no final desta reportagem).
Uma dessas novidades veio em 2014, quando dois físicos norte-americanos descobriram que o calor desobedece as teorias em escala nano.
Mas parece ser mais do que isso: Kaikai Zheng e colegas da Universidade de Massachusetts Amherst, nos EUA, acabam de descobrir que a lei da física que rege a condução do calor também pode falhar em macroescala, e mesmo em materiais bem conhecidos.
A equipe descobriu uma exceção à lei de 200 anos, conhecida como Lei de Fourier, que rege como o calor se difunde através de materiais sólidos. Também conhecida como lei da condução térmica, ela estabelece que a taxa de transferência de calor através de um material é proporcional ao gradiente de temperatura e à área da superfície perpendicular ao fluxo de calor - ou seja, o calor flui do mais quente para o mais frio em uma intensidade proporcional à diferença de temperatura entre as duas regiões e à área da superfície através da qual o calor está fluindo.
"Esta pesquisa começou com uma pergunta simples," contou o professor Steve Granick, coordenador da pesquisa. "E se o calor pudesse ser transmitido por outro caminho, e não apenas por aquele que as pessoas supunham?"
Irradiação pura
O que está envolvido aqui é o chamado calor radiante, o calor que sentimos do Sol, por exemplo: As ondas eletromagnéticas do calor aquecem nossa pele quando o Sol está brilhando. Mas o calor também se propaga por difusão, que é o modo pelo qual a xícara de café aquece sua mão. E, em 2020, descobriu-se uma nova forma de propagação do calor, chamada de calor viscoso.
Durante 200 anos, os cientistas acreditaram que a difusão explicaria como o calor viaja através dos sólidos. "Mas, às vezes, a criatividade exige que você deixe o livro de lado por um momento," continuou Granick.
A equipe encontrou uma exceção a essa lei ao testar suas premissas em polímeros translúcidos e vidros inorgânicos. Eles constataram que o calor se difunde através de ambos os materiais da maneira usual, como previsto pela Lei de Fourier, mas a translucidez desses materiais também permite que a energia irradie através deles - um novo caminho para que a energia do calor flua pelo material.
Para demonstrar isto, os pesquisadores colocaram amostras dos materiais em uma câmara de vácuo, para eliminar o ar responsável pela distribuição convectiva do calor, e criaram um pulso de calor em uma amostra usando um laser para aquecer uma pequena área; em outra amostra, eles aqueceram um lado enquanto mantinham o outro lado frio. Eles então usaram uma câmera infravermelha especial para observar como o calor se espalhava pelas amostras.
Repetindo o experimento muitas vezes, surgiram anomalias que a Lei de Fourier não consegue explicar inteiramente.
Descobertas sobre o calor
A novidade é que os materiais translúcidos permitem que a energia irradie internamente, interagindo com pequenas imperfeições estruturais, que então se tornam fontes secundárias de calor.
Estas fontes de calor secundárias continuam a irradiar calor através do material, ou seja, a radiação eletromagnética pura também atua e desempenha um papel relevante nos materiais estudados - plásticos e vidros.
"Não é que a Lei de Fourier esteja errada," enfatiza Granick. "É apenas que ela não explica tudo o que vemos quando se trata de transmissão de calor. Pesquisas fundamentais como a nossa nos dão uma compreensão ampliada de como o calor funciona, o que irá oferecer aos engenheiros novas estratégias para projetar circuitos térmicos."
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