Moisés de Freitas - 06/10/2010
Como nasce uma estrela?
Quando se trata de explicar o nascimento das estrelas, os astrônomos estão literalmente no escuro.
Estrelas se formam nas regiões mais densas de opacas nuvens cósmicas de poeira e gás - as chamadas "nuvens moleculares" - que entram em colapso sob sua própria gravidade. Como resultado, a matéria nessas regiões torna-se cada vez mais densa e mais quente, até que finalmente a fusão nuclear é iniciada: e nasce uma estrela!
Parece suficiente? Talvez bom o bastante para um colegial. Mas os astrônomos ainda não conhecem os mecanismos envolvidos, ou seja, como exatamente tudo isso acontece.
No mais das vezes, a explicação terá que ser preenchida com a onipresente expressão "ao longo de milhões de anos", que sempre está à mão para preencher as lacunas das explicações científicas ainda não encontradas. Quando as coisas acontecem "ao longo de milhões de anos", então tudo parece bem para a maioria das pessoas e o espírito científico é anestesiado por algum tempo.
Brilho nuclear
Mas talvez alguma luz esteja começando a surgir no nebuloso mundo das nuvens moleculares.
Laurent Pagani, do Observatório de Paris, na França, e Jürgen Steinacker, do Instituto Max Planck, na Alemanha, descobriram um novo fenômeno astronômico que parece ser comum nessas nuvens, e pode começar a dar explicações para as primeiras fases de formação de estrelas.
O fenômeno - a luz infravermelha que é dispersa por grãos inesperadamente grandes de poeira estelar - foi batizado pelos astrônomos de coreshine, algo como brilho do núcleo, ou brilho nuclear.
O que causa os primeiros movimentos da poeira estelar rumo aos primórdios daquilo que virá a ser um núcleo, que finalmente irá colapsar para dar origem a uma estrela, é algo totalmente desconhecido.
Agora entra em cena o coreshine, o espalhamento de luz no infravermelho médio (que está por todo lado em nossa galáxia) por grãos de poeira grandes, dentro das densas nuvens de poeira cósmica.
A luz espalhada traz informações sobre o tamanho e a densidade das partículas de poeira, a idade da região do núcleo central, a distribuição espacial do gás, a pré-história do material que irá formar os planetas e estrelas e sobre os processos químicos que ocorrem no interior da nuvem.
Coreshine
Depois de estudarem 110 nuvens moleculares, localizadas a distâncias entre 300 e 1.300 anos-luz da Terra, os pesquisadores descobriram que o fenômeno observado pela primeira vez em Fevereiro deste ano, usando dados do Telescópio Spitzer, é na verdade um fenômeno astronômico largamente disseminado.
Cerca de metade dos núcleos das nuvens moleculares apresentam o brilho nuclear.
A ocorrência inesperada de grãos de poeira grandes - onde "grande" significa diâmetros da ordem de um milionésimo de metro - mostra que os grãos começam o seu crescimento mesmo antes do início do colapso da nuvem molecular.
Uma observação de especial interesse ocorreu na constelação de Vela do Sul, na qual o coreshine não está presente. Sabe-se que esta região foi perturbada por diversas explosões estelares, as supernovas.
Steinacker e seus colegas viram nessa ausência um indício de que as supernovas podem destruir os grãos de poeira maiores presentes na região afetada pelas explosões. Ou seja, onde não há coreshine, mas há estrelas, a poeira mais grossa deve ter sido destruída por supernovas.
Parece bom? Parece melhor. Afinal, agora os dados mostram poeira estelar elementar, poeira estelar na faixa dos milionésimos de metro e estrelas. Há mais pontos a serem ligados. E muito trabalho e muitas descobertas a serem feitas.