Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/09/2021
Astrocreto
Pesquisadores da Universidade de Manchester, no Reino Unido, apresentaram uma nova versão de um concreto feito com líquidos corporais dos astronautas.
Enquanto na versão anterior, patrocinada pela NASA, ESA (Agência Espacial Europeia) e CNSA (Administração Espacial Nacional da China), era necessário usar a urina dos astronautas como elemento essencial para construir esse cimento, Aled Roberts e seus colegas acreditam que sua versão é mais flexível porque permite usar outros líquidos.
Uma vantagem um tanto questionável quando se leva em conta que esses "outros líquidos" são sangue, suor e lágrimas, nenhum dos quais disponíveis em quantidades suficientes para encher facilmente uma betoneira com o biocimento.
O material, que a equipe batizou de "astrocreto", é formado pelo uso dos fluidos corporais como ligante para o poeirento solo lunar ou marciano, chamado regolito.
O papel de ligante é feito por uma proteína do sangue humano, a albumina, que pode ser combinada com a ureia presente na urina, suor ou lágrimas para melhorar o desempenho do material.
O astrocreto ligado pela albumina apresentou uma resistência à compressão de até 25 MPa (megapascais), em comparação com os 20 a 32 MPa apresentados pelo concreto comum. Quando a ureia dos outros líquidos foi adicionada, o astrocreto chegou a 40 MPa.
Erguido sobre nossas lágrimas
Os cientistas calculam que poderiam ser produzidos cerca de 500 kg de astrocreto de alta resistência ao longo de uma missão de dois anos na superfície de Marte por uma tripulação de seis astronautas.
Se usado como uma argamassa para sacos de areia ou tijolos de regolito fundidos por calor, cada membro da tripulação poderia produzir cimento espacial suficiente para expandir o habitat para suportar um membro adicional da tripulação, dobrando o alojamento disponível a cada missão sucessiva.
A equipe também estima que o custo de transportar um único tijolo para Marte ficaria por volta de US$ 2 milhões, o que significa que os futuros colonos marcianos não poderão levar consigo muitos materiais de construção, devendo utilizar os recursos que puderem obter localmente para construção e abrigo.
Nesse contexto, nenhum líquido humano poderia ser descartado, nem mesmo as eventuais lágrimas de saudade da Terra - embora biorreatores com bactérias geneticamente modificadas para produzir ligantes sintéticos pareça uma opção mais produtiva.