Agostinho Rosa - 07/10/2009
Interface cérebro-cérebro
Cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, demonstraram que é possível a comunicação entre duas pessoas utilizando apenas os impulsos cerebrais, sem nenhum outro tipo de interação.
As interfaces cérebro-computador já não são nenhuma novidade, sendo utilizadas para o controle de computadores, robôs, sistemas de realidade virtual e até de cadeiras de rodas.
Mas o que a equipe do professor Christopher James desenvolveu agora é uma interface cérebro-cérebro, ainda que a conexão seja mediada por computadores.
"Enquanto a interface cérebro-computador não seja mais uma novidade e a comunicação pessoa a pessoa pela atuação única do sistema nervoso já tenha sido demonstrada antes, aqui nós mostramos, pela primeira vez, uma interface verdadeira de um cérebro a outro," afirma o Dr. James.
Comunicação cérebro a cérebro
No experimento, uma pessoa utiliza uma interface cérebro-computador tradicional, na qual eletrodos colados sobre seu crânio capturam os sinais cerebrais e os traduzem em dígitos na tela do computador.
A seguir, o programa envia os sinais captados para um outro computador, via Internet. Este computador recebe os sinais e os transforma em pulsos elétricos que fazem piscar um pequeno conjunto de LEDs. Essas piscadelas são captadas pelo equipamento ligado ao cérebro do segundo participante, que decifra a mensagem.
Eletroencefalograma
A demonstração consistiu na transmissão de quatro algarismos - 1011. Um aparelho de eletroencefalograma ligado ao usuário transmissor captura os dígitos conforme ele pensa em mover seu braço - pensar em mover o braço esquerdo gera um dígito 0, enquanto pensar em mover o braço direito gera um dígito 1.
Não há movimento efetivo, apenas a intenção é suficiente para gerar os sinais no aparelho de eletroencefalograma. Esses sinais são enviados ao computador, que os decodifica e os transmite automaticamente para o segundo computador.
O computador receptor recebe os dígitos e faz o conjunto de LEDs piscarem. As piscadelas são sutis demais para que possam ser detectadas e interpretadas conscientemente pelos olhos do usuário receptor. Mas são fortes o bastante para interferirem com os eletrodos que estão monitorando seu córtex visual. Detectando as alterações no cérebro do usuário receptor por meio desses eletrodos, o programa de seu computador interpreta os sinais recebidos e os imprime na tela.
Transmissão de pensamento
A demonstração teria sido um pouco mais didática se fossem usados dois computadores no lado do usuário receptor - um para receber os sinais pela Internet e fazer os LEDs piscarem, e outro para interpretar os sinais dos eletrodos e mostrar a informação decodificada.
Mas o princípio de funcionamento é o mesmo, e as duas tarefas são feitas por programas diferentes rodando no mesmo computador. Embora demonstre de fato uma comunicação cérebro a cérebro verdadeira, é importante salientar que não se trata, pelo menos não ainda, da transmissão de pensamentos, mas da utilização da interpretação dos sentidos atuando no cérebro - o pensar no movimento do braço, no caso do transmissor, e a sensação visual gerada no receptor.
"Nós ainda temos que compreender todas as implicações de tudo isto, mas há vários cenários nos quais a comunicação cérebro a cérebro poderá ser benéfica, como ajudar as pessoas com sérias deficiências motoras a se comunicarem. E há também a possibilidade de usar a tecnologia para jogos," diz o Dr. James.