Com informações da Agência Fapesp - 28/06/2021
Magnetização sem magnetismo
Pesquisadores brasileiros idealizaram uma técnica para tornar um material magnético sem a necessidade de aplicar-lhe um campo magnético externo.
Lucas Squillante e seus colegas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) descobriram que o magnetismo pode emergir em um sal mexendo apenas nos parâmetros de pressão e temperatura.
"Dito de forma muito resumida, a magnetização ocorre ao se comprimir um sal de maneira adiabática, isto é, sem troca de calor com o meio externo. A compressão faz com que a temperatura do sal aumente e, ao mesmo tempo, promove um rearranjo nos spins das partículas constituintes do sal. Tudo isso para que a entropia total do sistema seja mantida constante. O resultado é que o sistema fica magnetizado ao fim do processo," explicou o professor Mariano de Souza, orientador do trabalho.
Spin
O spin é a propriedade que faz com que as partículas elementares (quarks, elétrons, fótons etc.), as partículas compostas (prótons, nêutrons, mésons etc.) e até mesmo átomos e moléculas se comportem como diminutos ímãs, posicionando-se no sentido norte ou sul - no caso do spin, esse posicionamento é tipicamente conhecido pelos termos 'para cima' e 'para baixo'.
"Materiais paramagnéticos [materiais que sofrem a influência de um campo magnético], como o alumínio, que é um metal, são magnetizados apenas sob a aplicação de campo magnético externo. Já materiais ferromagnéticos, como o próprio ferro, podem apresentar magnetização finita mesmo na ausência de campo magnético aplicado, pelo fato de possuírem domínios magnéticos," explicou Mariano.
Entropia
Já a entropia é uma grandeza termodinâmica que mede o grau de liberdade molecular de um material, o que envolve diferentes configurações (ou microestados), ou seja, de quantas maneiras as partículas (átomos, íons ou moléculas) podem se distribuir em níveis energéticos identificáveis.
Embora tipicamente associada à "desordem de um sistema", a entropia pode funcionar como uma força organizadora.
"No caso de um material paramagnético, a entropia incorpora uma distribuição de probabilidades que descreve o número de spins 'para cima' ou 'para baixo' das partículas constituintes," exemplificou Mariano.
Magnetização por pressão
A ideia consiste em submeter um sal paramagnético a uma compressão em uma única direção (um único eixo) e um único sentido sentido (direita para a esquerda, por exemplo).
"Ao se aplicar estresse uniaxial, o volume do sal diminui. Como o processo é conduzido sem que haja troca de calor com o meio, a compressão produz um aumento adiabático da temperatura do material. Aumento de temperatura significa aumento de entropia. Para que a entropia total do sistema se mantenha constante, é preciso que exista um componente de diminuição local de entropia que compense o aumento da temperatura. Com isso, os spins tendem a se alinhar, levando à magnetização do sistema," detalhou Mariano.
Desse modo, a entropia total do sistema mantém-se constante e a compressão adiabática resulta em magnetização. "Experimentalmente, o caráter adiabático é atingido ao se comprimir a amostra em um intervalo de tempo menor do que o de sua relaxação térmica - ou seja, a típica escala de tempo que o sistema leva para trocar calor com seu entorno," alertou Mariano.
Os pesquisadores propõem que o aumento adiabático de temperatura pode também ser utilizado para investigar outros sistemas interagentes, tais como condensados de Bose-Einstein em isolantes magnéticos e sistemas dipolares do tipo "gelo de spin".