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Como funciona a universidade sem professores

Com informações da BBC - 17/11/2016

Como funciona a universidade sem professores
Todos são alunos, cada um deve fazer seu projeto e os todos avaliam-se mutuamente.
[Imagem: BBC/Divulgação]

Da ficção para a realidade

Uma universidade revolucionária, sem professores, onde não há livros e nada é pago, acaba de criar seu segundo campus no Vale do Silício, na Califórnia. A ideia é receber mil estudantes por ano, interessados em programação de computadores e desenvolvimento de software. Durante o curso, os alunos trabalham sempre em grupo e avaliam os trabalhos uns dos outros.

O nome da nova universidade, 42, é uma referência à resposta sobre qual seria o sentido da vida segundo o clássico de ficção científica O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams - criado nos anos 1970 como série de rádio da emissora britânica BBC e transformado em livro, peça de teatro, minissérie de TV, filme longa-metragem, revista em quadrinhos, livro ilustrado e jogo de computador. O Guia do Mochileiro das Galáxias é o nome de um dicionário fictício, que tem definições e opiniões sobre todo o universo.

O primeiro campus da 42 foi criado em Paris, em 2013, por Xavier Niel, um empresário e milionário do setor de tecnologia. Xavier Niel e seus sócios - vindos de empresas emergentes de alta tecnologia - querem revolucionar a educação.

Estudo por projeto

Para atingir essa meta, a universidade combina uma forma radical de ensino colaborativo e aprendizagem por projetos. Os dois métodos são bastante populares entre educadores, mas normalmente envolvem a supervisão de professores.

Os alunos da 42 podem escolher projetos - como criar um website ou um jogo de computador - que seriam executados se eles estivessem trabalhando em uma empresa como desenvolvedores de software.

Para colocar seu projeto de pé, eles usam as fontes gratuitas disponíveis na internet e recebem ajuda dos colegas. Todos trabalham lado a lado, em uma ampla sala, com várias fileiras de computadores. Depois, a avaliação será feita por um outro colega, escolhido aleatoriamente.

Como nos jogos de computador, os estudantes vão avançando no curso em níveis ou fases e competem com um mesmo projeto. Eles se formam ao atingir o nível 21 e isso geralmente leva de três a cinco anos. Ao concluir o curso, recebem um certificado, nada de diploma tradicional.

Aprendizado ativo

Os criadores da 42 afirmam que esse método de aprendizagem é melhor do que o sistema tradicional que, segundo eles, incentiva os estudantes a serem receptores passivos de conhecimento.

"O retorno que temos recebido dos empregadores é que os jovens que formamos são mais preparados para buscar informações por si mesmos, por exemplo, sem precisar perguntar ao supervisor o que devem fazer," diz Brittany Bir, chefe de operações da 42 na Califórnia e ex-aluna no campus de Paris. "O aprendizado colaborativo faz os estudantes desenvolverem a confiança necessária para buscar soluções de forma autônoma, com métodos criativos e engenhosos."

Ela afirma ainda que quem passou pela 42 é mais capaz de trabalhar em grupo, discutir e defender ideias - qualidades procuradas no mundo real do mercado de trabalho em tecnologia. "Isso é especialmente importante na área de programação, onde há uma falta de determinadas habilidades humanas," acrescenta.

Prós e contras

O aprendizado colaborativo não é novidade e já é adotado em várias escolas e universidades, especialmente em áreas como engenharia. Aliás, historiadores concluíram que, na Grécia antiga, o filósofo Aristóteles tinha na sua escola alunos que eram monitores e ajudavam os colegas.

Pesquisas recentes mostram que o aprendizado colaborativo pode fazer o aluno desenvolver um conhecimento mais profundo sobre determinado assunto.

Especialista em educação, o professor Phil Race explica que assuntos difíceis são mais fáceis de entender quando explicados por alguém que os aprendeu sozinho, sem nenhuma ajuda.

Dan Butin, reitor da escola de educação e política social do Merrimack College de Massachusetts, nos EUA, defende que o aprendizado colaborativo e por projetos seja popularizado em colégios e universidades.

O professor Butin diz que esses métodos são "ferramentas de ensino" muito melhores do que palestras, por exemplo, que normalmente não propõem desafios ao raciocínio dos ouvintes. No entanto, Butin considera que a universidade 42 foi longe demais ao abolir os professores. Pesquisas feitas por ele indicam que a maneira mais eficaz de ensino colaborativo inclui a supervisão de um professor especializado.

"A razão decisiva para a existência de um professor é orientar os estudantes no enfrentamento de assuntos complexos, ambíguos e que geralmente escapam à sua capacidade de entendimento", acredita. O pesquisador diz que "a função da universidade" é desafiar conhecimentos e opiniões preconcebidas. Uma universidade sem professores, continua Butin, pode permitir que os estudantes simplesmente "reforcem e regurgitem" ideias que já têm sobre o mundo.

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