Com informações da Unicamp - 07/11/2016
Sericina
Além do fio de seda propriamente dito, o casulo do bicho-da-seda possui um tipo de cola, uma proteína, chamada sericina, que une os fios de seda uns aos outros, cimentando o casulo para manter sua integridade.
No processo industrial atual de beneficiamento da seda, a sericina é uma fonte de poluição das águas ou de custo adicional para o tratamento dos efluentes.
Os químicos Thiago Lopes da Silva e Meuris Gurgel da Silva, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), demonstraram agora que essa cola natural pode ter um destino mais nobre: em vez de se tornar um poluente, a sericina pode limpar a água, removendo metais tóxicos em estações de tratamento de água.
Para isso, a dupla criou partículas feitas de uma combinação de sericina com alginato, um derivado das algas marinhas. Essas partículas híbridas mostraram-se capazes de capturar da água metais tóxicos como cromo, cádmio, zinco ou chumbo. Dependendo do metal, as taxas de remoção podem chegar a mais de 99%.
Recuperação de metais nobres
O processo também funciona com metais preciosos como a prata, o ouro, o paládio e a platina, abrindo caminho para uso do processo na recuperação desses metais, em processos de mineração ou de reciclagem de materiais, onde esses metais nobres aparecem em concentrações muito baixas.
"O principal foco do nosso trabalho foi avaliar a remoção da prata porque, além de ela ser um metal nobre, e sua remoção dos efluentes apresentar benefícios econômicos, ela é tóxica quando está na forma iônica, dissolvida em água," explicou Thiago. "A prata é o metal nobre mais utilizado em processos industriais, e o crescente desenvolvimento de novos produtos que utilizam esse metal como agente bactericida, como por exemplo em materiais esportivos, faz com que a geração de efluentes que contêm o metal também aumente".
Filtragem de metais
O princípio do processo de descontaminação é semelhante à filtragem por carvão. A água contaminada com metais é colocada em contato com as partículas de sericina e alginato, e sai purificada. Os metais, que ficam capturados nas partículas, podem ser depois concentrados e reaproveitados. As partículas, após a extração do metal, podem ser reutilizadas em novos ciclos de purificação de água.
Os pesquisadores afirmam que outras equipes já vinham tentando usar apenas a sericina em pó para a recuperação de ouro e outros metais, mas a incorporação do alginato deu maior estabilidade ao composto, abrindo caminho para seu uso como filtro industrial.
"Se a gente consegue pegar uma coisa que está extremamente diluída em água, porém ainda acima do limite legal para descarte, e concentrar numa forma que viabilize a recuperação desse metal, isso é algo de grande interesse, devido ao alto valor comercial. Então, além do lado ambiental, a remoção dessa parte tóxica da água tem uma etapa de alto valor econômico", disse Thiago.