Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/10/2020
Reprodutibilidade versus ciência aberta
Na comunidade científica atual, em um movimento que já dura mais de uma década, os cientistas de muitas disciplinas têm procurado melhorar o funcionamento da ciência e seus métodos.
Para isso, eles têm seguido basicamente um de dois caminhos: O movimento pela reprodutibilidade e o movimento pela ciência aberta.
Ambos os movimentos visam criar bases centralizadas de dados, códigos de computador e outros recursos.
Mas, a partir daí, os caminhos divergem. O movimento pela reprodutibilidade defende que os cientistas devem tentar reproduzir os resultados de experimentos anteriores para verificar os resultados publicados, enquanto a ciência aberta convida os cientistas a compartilharem recursos para que as pesquisas futuras possam se fundamentar sobre o que já foi feito, fazer novas perguntas e fazer a ciência avançar.
Agora, uma equipe internacional descobriu que os dois movimentos fazem mais do que divergir. Eles têm culturas muito distintas, com as literaturas produzidas pelos dois grupos de pesquisadores apresentando pouco em comum. A investigação também sugere que um dos movimentos - a ciência aberta - promove maior equidade, maior diversidade e maior inclusão.
"Os dois movimentos têm poucos cruzamentos, autores compartilhados ou colaborações," resumiu Mary Murphy, da Universidade de Indiana, nos EUA. "Eles operam de forma relativamente independente. E essa distinção entre as duas abordagens é replicada em todos os campos científicos que examinamos."
Em outras palavras, seja na biologia, na psicologia ou na física, os cientistas que atuam na ciência aberta participam de uma cultura científica diferente daqueles que atuam na cultura da reprodutibilidade, mesmo que atuem no mesmo campo disciplinar.
E a cultura em que um cientista trabalha determina muito sobre o acesso e a participação, especialmente para as mulheres e os cientistas não brancos.
Duas narrativas da ciência
Para investigar os caminhos dos dois movimentos da ciência, a equipe primeiro realizou uma análise dos artigos publicados de 2010 a 2017 identificados explicitamente com um dos dois movimentos.
A análise mostrou que, embora ambos os movimentos abranjam amplamente os campos da "ciência dura" - ciência, tecnologia, engenharia e matemática -, os autores dentro deles ocupam duas redes amplamente distintas.
Em outras palavras, os autores que publicam pesquisas científicas abertas raramente produzem pesquisas dentro da reprodutibilidade, e muito poucos pesquisadores de reprodutibilidade conduzem pesquisas científicas abertas.
Em seguida, a equipe realizou análises semânticas dos resumos dos artigos para determinar os valores implícitos na linguagem usada para definir a pesquisa. Especificamente, eles examinaram o grau em que a pesquisa era pró-social, ou seja, orientada para ajudar os outros, procurando resolver grandes problemas sociais.
"Isso é significativo," explicou Murphy, "na medida em que estudos anteriores mostraram que as mulheres muitas vezes são atraídas para a ciência com objetivos mais orientados para o social e visando melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas e da sociedade. Descobrimos que a ciência aberta tem mais linguagem pró-social em seus resumos do que a ciência da reprodutibilidade."
Nessa questão de gênero, a equipe descobriu que "as mulheres publicam com mais frequência em posições de autoria de alto status na ciência aberta, e que a participação em posições de autoria de alto status tem aumentado ao longo do tempo na ciência aberta, enquanto na reprodutibilidade a participação das mulheres em posições de autoria de alto status estão diminuindo com o tempo," disse Murphy.
Mas a equipe destaca que a ligação que encontraram entre as mulheres e a ciência aberta é até agora meramente uma correlação, e não uma conexão causal.