Com informações da Agência Fapesp - 21/05/2018
Mobilidade inteligente
Mais da metade da população mundial vive em cidades e a expectativa é que, até 2050, esse índice salte para 75%.
Nessas condições, gerar qualidade de vida, combater problemas do sistema de saúde e até mesmo planejar movimentos econômicos são preocupações que levaram ao conceito de "cidades inteligentes".
O tema reuniu especialistas no evento "Mobilidade e Cidades Inteligentes", realizado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pelo Instituto do Legislativo Paulista.
Embora as discussões e as experiências relatadas tenham se concentrado no caso da capital paulista, as conclusões e as soluções mostram caminhos válidos para todas as grandes cidades e também para a médias que pretendam crescer de forma mais racional.
Não compre nada ainda
Para o professor Fábio Kon, da Universidade de São Paulo (USP), cada vez mais a tendência será criar aplicações e serviços para a população a partir da coleta e análise de dados, seja em transportes, saúde, coleta de lixo, por exemplo: "Isso é a base das cidades inteligentes. Porém, a velocidade com que esse movimento vai ocorrer depende de nós, cientistas, depende do Legislativo, das empresas e da população."
Mas aqueles que estão se preocupando com o assunto não parecem estar dando os primeiros passos corretos: As prefeituras, por exemplo, têm apresentado como padrão a compra de produtos anunciados como viabilizadores de uma cidade inteligente.
"Isso é uma maneira de se obter uma cidade burra. Saber que hardware comprar é a última coisa a se fazer. Fazer uma cidade inteligente exige ter especialistas e cientistas trabalhando de forma integrada com funcionários da prefeitura para entender quais são as necessidades da população, fazer diagnósticos e elaborar projetos para uma política pública de longo prazo. Somente quando se chega a esse ponto é que se escolhe o produto a comprar ou se é preciso desenvolver um novo", disse Fábio.
Deslocamento e saúde
Projetos desenvolvidos na USP já possibilitam a criação de políticas públicas baseadas em evidências, e não em hipóteses e teorias transpostas entre realidades diferentes. Entre eles está um sistema que monitora a relação entre o sistema de saúde e a mobilidade urbana.
"Calculamos quanto as pessoas precisam se deslocar para receber determinado tratamento de saúde. Vimos que elas se deslocam muito. Estudos como esses podem justificar a localização de novos hospitais, ou, se o governo tem dinheiro apenas para investir em um, e não cinco hospitais, que o investimento seja feito da melhor maneira possível," disse Fábio.
Outro projeto já gerou a criação de uma empresa filha da USP, a Scipopulis, cujo sistema monitora em tempo real a frota de ônibus na cidade de São Paulo, auxiliando na tomada de decisões e melhoria de vida dos passageiros.
"A partir da nossa análise de dados conseguimos responder a perguntas sobre mobilidade urbana e ter uma análise global do trânsito. Com o monitoramento é possível fazer uma análise global tanto para o passageiro, que precisa saber que horas o ônibus vai chegar, quanto para o gestor. A análise para o gestor utiliza também dados históricos para indicar onde há problemas crônicos ou momentâneos que exijam uma ação planejada ou imediata da cidade", disse Márcio Cabral, diretor da startup.
Mobilidade e valor dos imóveis
Segundo Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, os temas cidades inteligentes e mobilidade urbana, além de serem uma questão de saúde, devem ser relacionados com os direitos fundamentais das pessoas.
"A forma como nos locomovemos nas cidades está conectada a doenças e também pode ser interpretada como um método de exclusão. Como um jovem que precisa de três horas para se locomover vai estudar e se tornar uma pessoa melhor para a sociedade? Calculamos o preço de mudar, mas ninguém sabe o preço de manter como estamos hoje," disse.
"Em economia, defendemos que as paisagens econômicas revelam realidades complexas. Quais os custos e os benefícios de morar em uma cidade como São Paulo?" questionou o professor Danilo Igliori.
A análise dos dados de 15 milhões de imóveis na cidade de São Paulo mostrou que, quanto mais próximo de uma estação de metrô estiver o imóvel, menor será o acréscimo no valor do imóvel devido à presença de uma vaga de garagem: A vaga pode representar até 11,7% do valor total de um imóvel na cidade, deixando um apartamento de 60 m2 de R$ 14 mil a R$ 238 mil mais caro, dependendo da proximidade do metrô.