Redação do Site Inovação Tecnológica - 16/09/2020
Ciclos solares
Talvez você esteja estranhando essa manchete, e não é para menos: Esta é a primeira vez que o início de um ciclo solar é anunciado oficialmente.
O Sol apresenta um ciclo com uma duração aproximada de 11 anos, durante o qual as atividades na superfície da estrela - manchas solares, tempestades solares, ejeções de massa coronal etc - aumentam e declinam gradualmente. Essas variações são acompanhadas desde o século XVII, o que permitiu documentar até hoje 24 ciclos solares.
Como as causas dessas oscilações estão longe de serem bem compreendidas, é muito difícil prevê-las. Por isso, no ano passado, conforme a atividade solar diminuía, a NASA e a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) reuniram mais uma vez um painel de especialistas para que eles tentassem prever a inflexão da curva de eventos solares, que marcaria o fim do ciclo 24 e o início do ciclo 25.
O painel previu que o mínimo de atividade solar ocorreria entre Novembro de 2019 e Outubro de 2020. Como é tudo muito incerto nesses primeiros dias da climatologia espacial, foi preciso esperar meses para confirmar que a previsão estava correta.
Os dados agora mostram que Dezembro de 2019 marcou o mínimo da atividade solar do ciclo 24; desde então, os eventos começaram a aumentar novamente, permitindo considerar oficialmente que estamos no ciclo solar 25.
Previsões do clima espacial
Determinar o comportamento da nossa estrela com antecedência não é mera questão de interesse científico. "Em fases de alta atividade, erupções violentas de partículas e radiação do Sol também podem afetar a Terra," disse Robert Cameron, do Instituto Max Planck, na Alemanha, que é membro do painel que fez as previsões.
Na pior das hipóteses, isso pode causar danos a satélites, redes de comunicação e de transmissão de energia, ou mesmo colocar em perigo os astronautas na Estação Espacial Internacional.
Mas o novo ciclo solar deve dar poucos motivos para preocupações a esse respeito. O painel de especialistas prevê que o ciclo 25 seja semelhante ao seu predecessor, que foi bastante fraco. A força dos ciclos solares tem mostrado uma tendência clara de queda desde a década de 1980. O final do ciclo 23 foi o menor nível de atividade do Sol em um século. Isto sem contar que o Sol é uma estrela inexplicavelmente tranquila.
"Ao que parece, o período atual de baixa atividade solar, em comparação com os fortes ciclos da maior parte dos últimos 50 anos, continuará nos próximos onze anos," disse Cameron. A propósito, o próximo máximo solar deverá ocorrer entre novembro de 2024 e março de 2026.
Embora as previsões dos ciclos solares anteriores estivessem em alguns casos visivelmente erradas, Robert Cameron está esperançoso de que as mais recentes descobertas científicas tenham melhorado a capacidade de prever o comportamento do Sol, e que deveremos nos acostumar com novas previsões do clima espacial.
Regiões bipolares
Um dos elementos mais importantes para prever o comportamento da nossa estrela são estruturas magnéticas locais que apareceram na superfície visível do Sol antes dos eventos mais cataclísmicos.
Essas chamadas regiões bipolares consistem em áreas muito próximas umas das outras, mas com polaridades magnéticas opostas. Como em uma espécie de correia transportadora, ao longo de vários anos enormes fluxos de plasma carregam esses campos magnéticos locais, levando-os de perto do equador para os pólos solares, construindo assim o campo magnético solar global que dará forma ao próximo ciclo solar.
Nos pólos, o plasma desce para o interior solar, de onde faz seu caminho de volta ao equador, em um processo muito similar às correntes oceânicas na Terra. "Cada revolução leva cerca de onze anos e é a base física do ciclo solar," explicou Cameron.
Para fazer previsões da atividade solar, é crucial, por um lado, observar com precisão e continuamente o número e a distribuição das regiões bipolares que se formam na superfície do Sol. Telescópios como o SDO (Solar Dynamics Observatory) da NASA têm fornecido os dados necessários para isso há vários anos.
Por outro lado, a heliossismologia, uma subdisciplina ainda jovem da pesquisa solar, permite visualizar processos no interior do Sol e assim determinar a velocidade exata dos fluxos de plasma que constituem a correia transportadora solar. "Com esses métodos, podemos antecipar com vários anos de antecedência como o Sol se comportará no próximo ciclo solar," disse Cameron.
Previsões além de um ciclo solar, no entanto, ainda são impossíveis, de forma que não temos como saber quando o Sol voltará ao nível mais forte de atividades que apresentou na metade do século passado.