Alex Sander Alcântara<Agência Fapesp> - 14/12/2007
Um novo estudo demonstrou que as propriedades físico-químicas do carbonato de cálcio extraído da casca do ovo apresentam maior estabilidade e resistência térmica quando comparado ao carbonato de cálcio produzido industrialmente - amplamente utilizado como diluente sólido em produtos farmacêuticos, odontológicos, cosméticos e em suplementos alimentares.
Mais estável que composto industrial
Compostas por 94% de carbonato de cálcio, as cascas de ovos de frango são excelente fonte dessa substância e podem ser uma alternativa ao produto de origem industrial. O trabalho, feito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi publicado pela revista Ciência e Tecnologia de Alimentos.
De acordo com Fábio Murakami, do Laboratório de Controle de Qualidade da UFSC e primeiro autor do estudo, o principal objetivo foi investigar reações físico-químicas e o comportamento térmico do carbonato obtido da casca de ovo em comparação ao industrial.
Reaproveitamento das cascas de ovos
"As principais vantagens do derivado da casca de ovo são o aproveitamento do resíduo da agroindústria, que é um desafio ambiental, e a maior estabilidade em temperaturas superiores às investigadas para o carbonato de origem industrial", disse à Agência FAPESP.
Outras fontes de cálcio
"O composto obtido da farinha de ossos não tem a mesma disponibilidade do cálcio extraído de fontes sintéticas. Nas conchas de ostras, o carbonato tem vestígios de chumbo, entre outros elementos potencialmente tóxicos como alumínio, cádmio e mercúrio.
Nesse cenário, a casca de ovo tem a vantagem de não conter elementos tóxicos", afirmou Murakami. Há grande interesse no mercado em encontrar novas fontes puras de carbonato de cálcio.
Estabilidade térmica
De acordo com o pesquisador, a qualidade de apresentar maior estabilidade térmica poderá ser relacionada ao processamento tecnológico de farmacêuticos, dentifrícios, antiácidos, suplementos alimentícios, entre outros.
"O composto que apresentar maior estabilidade à temperatura poderá resistir a processos mais agressivos quando o elevado calor for considerado, além de apresentar um melhor prazo de validade", explicou Murakami.
Múltiplas análises
Para o estudo, os pesquisadores utilizaram métodos como análise térmica - que avalia as mudanças físicas dos compostos por meio de um programa controlado de temperatura -, difração de raios X e microscopia. Esses foram empregados para investigar a cristalinidade, aspectos estruturais, dimensão, textura, forma e comportamento das partículas tanto no carbonato de cálcio de origem industrial como no da casca de ovo.
"A combinação dessas técnicas proporciona interpretações rápidas e adequadas quanto à estabilidade térmica, à organização molecular e ao tamanho da partícula, possibilitando uma quantificação analítica das substâncias", explicou Murakami.
Análise térmica
A análise térmica do carbonato de cálcio industrial indicou sua decomposição a temperaturas entre 601°C e 770°C, ao passo que o composto extraído da casca de ovo sofreu o mesmo processo entre 636°C e 795ºC.
"Os resultados demonstraram que o carbonato de cálcio de origem industrial se decompõe a cerca de 30°C a menos do que o obtido da casca de ovo, que se mostrou mais resistente ao calor e, por isso, mais estável em relação ao composto industrial", disse pesquisador.
Cristalinidade
A difração de raios X e a microscopia revelaram que, em ambas as fontes, as partículas de carbonato de cálcio apresentaram aspectos de cristalinidade semelhantes, e que no composto obtido da casca de ovo as partículas obtiveram tamanho maior, o que pode estar relacionado à maior estabilidade térmica.
"Nos dois casos, os compostos apresentaram parâmetros físico-químicos similares, indicando que o carbonato de cálcio extraído da casca de ovo pode ser uma nova opção como excipiente farmacêutico, ou seja, uma promissora área a ser explorada", destacou Murakami.