Com informações da Agência Brasil - 26/04/2011
Jogando fora
Em 2009, quando o gás natural começava a se destacar como importante insumo na matriz energética, o Brasil chegou a queimar mais de 13 milhões de metros cúbicos diários - volume suficiente para gerar cerca de 3 mil megawatts de energia térmica e abastecer uma cidade de aproximadamente 12 milhões de habitantes.
Em junho daquele ano, o país atingiria um recorde negativo: 13,3 milhões de metros cúbicos de gás natural queimados diariamente.
"Foi o pico de queima a que chegamos, com um índice de utilização de apenas 77% - ou seja, uma queima de quase 23% do gás produzido. A partir daí, concluímos que não era mais possível manter esse patamar", afirmou o superintendente adjunto de Produção da Agência Nacional de Petróleo (ANP), André Barbosa.
"Foi uma coisa gritante e que nos levou ao Programa de Redução de Queima de Gás Natural. Entendemos que os níveis da queima de gás no Brasil estavam muito elevados, em função principalmente de novas unidades de produção que entravam em operação".
Desperdício energético
A queima de gás em Fevereiro atingiu 4,8 milhões de metros cúbicos (m³) por dia, enquanto a produção ficou em torno de 62 milhões de m³ diários.
O volume queimado é suficiente para gerar cerca de mil megawatts (MW) de energia termelétrica e propiciar o abastecimento diário de uma cidade com 4 milhões de habitantes.
O volume queimado equivale ainda a mais de 10% do consumo médio do mercado verificado nos três primeiros meses do ano que, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), foi de 44,8 milhões de m³ por dia.
Equivale também a aproximadamente 15% do volume que o país importa diariamente da Bolívia e que varia entre 24 milhões e 31 milhões de m³ diários.
"Desperdício razoável"
Para a ANP, o ideal é que a queima de gás fique em apenas 3% do total produzido.
Segundo Barbosa, chegar a 3% de queima é um percentual ainda difícil de ser alcançado.
"Esse resultado de 3% seria o ideal, só que é preciso considerar que muitas das plataformas existentes no Brasil são antigas e quando foram concebidas não previam o aproveitamento do gás, porque o petróleo na época tinha um valor comercial muito maior. Então, esse percentual de 3% ainda vai demorar um pouco mais para ser alcançado", previu.
"Nós estamos com estimativa de chegar a 5% de perda em 2012 ou 2013, o que já seria um cenário bem razoável. Se em fevereiro nós já reduzimos a queima para 4,8 milhões de metros cúbicos por dia, se chegarmos em torno de 3,5 milhões a 4 milhões de metros cúbicos diários no próximo ano já será um cenário bem razoável pela quantidade de campos existentes no país".
Para Barbosa, depois de atingir a meta de 5% é que a ANP vai avaliar se será possível "apertar mais os níveis de queima para atingir esse patamar de 3% em 2014, 2015".
Recorde negativo
Foi a partir do recorde negativo de junho de 2009 que a ANP passou a adotar a política de exigir dos concessionários que eles empreendessem os postos para que o consumo de gás se desse dentro de padrões razoáveis. De acordo com Barbosa, o termo de compromisso com a redução da queima foi firmado com as empresas devido à necessidade de ajustar os programas e adaptar as plataformas à nova realidade.
"É claro que nós sabemos que a resposta não será tão imediata quanto gostaríamos que fosse. Na verdade, o que também estamos fazendo é intensificar a fiscalização, indo ao campo para acompanhar e comprovar de perto a revisão de compressores - que também reduzem o desperdício. No caso do descumprimento dos planos estabelecidos, aplicamos sanções - uma forma de pressão para que cheguemos à meta almejada".
O superintendente lembrou que hoje grande parte do gás é utilizada na geração de energia na própria plataforma, "o que por si só já reduz a necessidade de queima. Parte do gás pode ainda ser reinjetada no próprio campo para melhorar a recuperação e a produtividade do reservatório de óleo, enquanto outra parte fica disponível para o escoamento e a comercialização da produção", explicou.
Período de comissionamento
Barbosa explicou que uma plataforma quando é nova e começa a produzir necessita de um tempo, chamado pela ANP de "período de comissionamento da planta". Em geral, são 90 dias. "É quando os equipamentos estão sendo reajustados e adequados para a produção, inclusive do gás. Nesse tempo ele [o concessionário] acaba queimando o gás sem qualquer aproveitamento".
O superintendente garantiu que a ANP vem insistindo com os operadores para que reduzam esse tempo para algo em torno de 30 a 60 dias. Segundo ele, uma das alternativas para reduzir o desperdício é o reaproveitamento do gás pelos produtores para a geração de energia local.
André Barbosa ressaltou, porém, que a redução gradativa dessa queima, que caiu para 4,8 milhões de metros cúbicos por dia em fevereiro, não decorreu apenas do programa da ANP.
"Até porque o programa foi feito basicamente para a Bacia de Campos, no norte fluminense. Explicou que há campos que vêm diminuindo a produção em outras áreas exploratórias. "Alguns poços vêm sendo fechados por insuficiência de volume de produção", afirmou.