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Brasil ganha centro de estudos em nanotecnologia

Thiago Romero - Agência FAPESP - 06/03/2008

Brasil ganha centro de estudos em nanotecnologia
Microscópio eletrônico de transmissão analítica
[Imagem: Thiago Romero]

O Brasil acaba de ganhar um centro de pesquisas em nanotecnologia com equipamentos de última geração, que devem possibilitar que o Brasil avance nesta que é considerada uma das mais promissoras áreas de avanço tecnológico deste século.

Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes

O Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes foi inaugurado na tarde desta terça-feira (4/3) no campus do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP), em solenidade que contou com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende.

Resultado da evolução de um programa de pesquisa em nanotecnologia iniciado em 1999 no LNLS, o novo centro reúne, em uma área construída de 2,2 mil metros quadrados, um conjunto de laboratórios dedicado ao estudo das propriedades de materiais em nível atômico e molecular.

Microscópio eletrônico de transmissão analítica

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) investiu R$ 6 milhões nas obras do prédio, e a FAPESP, US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 4,2 milhões) para a compra de equipamentos, entre eles o microscópio eletrônico de transmissão analítica para nanocaracterização de materiais.

As instalações do centro funcionarão de forma integrada com as estações experimentais da fonte de luz síncrotron, uma radiação eletromagnética intensa produzida por elétrons de alta energia em um acelerador de partículas. A luz síncrotron abrange uma ampla faixa do espectro eletromagnético: raios X, luz ultravioleta e infravermelha.

Integração

"Por funcionar junto ao LNLS, esse novo centro de pesquisa, que leva o nome de um símbolo de ciência brasileira com quem tive a oportunidade de compartilhar experiências quando fui professor da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], abriga um conjunto de facilidades que fazem com que esteja na fronteira do conhecimento e seja, de longe, um dos mais completos centros de pesquisas em física, química e biologia no hemisfério Sul", disse Rezende.

"As instalações do Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes também serão utilizadas em forma de rede por pesquisadores de todo o mundo, em especial da América Latina, com vistas a contribuir para o desenvolvimento da ciência nacional e internacional", afirmou o ministro.

De acordo com José Antonio Brum, diretor-geral do LNLS, instituição de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes funcionará de maneira integrada ao LNLS, "mas com certa autonomia e podendo caminhar com suas próprias pernas".

"A inauguração do centro representa a consolidação do LNLS, que tem a única fonte de luz síncrotron na América Latina", disse Brum à Agência FAPESP. "Em um único campus temos um complexo de pesquisa que busca maior sinergia com os diversos setores industriais e com o conhecimento de pesquisa básica das universidades, que abriga a grande massa crítica do conhecimento científico e tecnológico no país."

Nanossemicondutores

Das linhas de pesquisa que hoje estão em andamento no LNLS e que deverão continuar sendo desenvolvidas no centro que acaba de ser inaugurado, Brum destaca as pesquisas em tecnologia da informação (TI) na área de nanossemicondutores.

"Trata-se de pequenos aglomerados de centenas de átomos de semicondutores que poderão ser, no futuro, a célula básica dos dispositivos eletrônicos utilizados em diferentes fins", afirmou. Brum também destacou as pesquisas na área de matéria mole (soft matter), que envolve a solução de problemas fundamentais em compostos como polímeros.

"Essa linha de pesquisa gera muito interesse na comunidade científica devido à sua complexidade e a dificuldade em obter resultados. Mas agora, com os equipamentos disponíveis no novo centro, associados à luz síncrotron, conseguiremos enxergar as matérias moles em seus detalhes atômicos para entender, definitivamente, como elas funcionam", disse.

Matérias moles

As aplicações das matérias moles são inúmeras, apontou Brum, e vão desde plásticos até cosméticos. "Para essas pesquisas estamos estudando parcerias com empresas como a Braskem e a Natura, de modo que seus pesquisadores venham para o nosso laboratório e tenham acesso aos equipamentos aqui instalados", explicou.

"A idéia é promover a utilização dos equipamentos e do conhecimento científico gerado no laboratório para atrair indústrias que tenham programas específicos de desenvolvimento tecnológico", acrescentou.

Seguindo as mesmas regras de utilização do LNLS, cujo desenvolvimento de pesquisas é aberto às comunidades científicas nacional e internacional, o Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes também receberá propostas de projetos para utilização de suas instalações físicas. "Assim como já ocorre com todo o LNLS, aproximadamente 75% do tempo de utilização das instalações do centro deverá ser destinado à comunidade externa", explicou Brum.

O centro já conta com dois microscópios eletrônicos em funcionamento, recém-adquiridos com apoio da FAPESP. Ao longo de 21 anos de existência, o LNLS recebeu em suas instalações mais de 6 mil pesquisadores do Brasil e do exterior.

Centro de Tecnologia do Bioetanol

Durante a solenidade de lançamento do Centro Cesar Lattes também foi anunciada a criação de outro instituto de pesquisa, o Centro de Tecnologia do Bioetanol, que será construído em terreno dentro do campus do LNLS, em Campinas.

A proposta de construção desse centro tem relação com os resultados do Projeto Etanol, conduzido pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp e coordenado pelo físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite.

O trabalho, concluído em 2007 sob encomenda do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), fez um panorama do futuro energético brasileiro, com indicadores sobre a importância dos biocombustíveis para a superação da dependência mundial dos combustíveis fósseis.

Os pesquisadores estimaram, por exemplo, que em 2025 a demanda mundial de gasolina para veículos leves será de 1,7 trilhão de litros, o que representa um crescimento de 48% em relação ao 1,15 trilhão de litros consumidos em 2005.

Ciência básica do etanol

"Uma das principais conclusões do Projeto Etanol é que o Brasil está muito atrasado na questão da ciência básica do etanol. Fizemos um estudo específico que analisou dez mil artigos de qualidade sobre o assunto, publicados em revistas científicas de todo o mundo, e nenhum deles tinha autores brasileiros", disse Cerqueira Leite à Agência FAPESP.

"Isso que dizer que, apesar de ter tido um desenvolvimento tecnológico extremamente avançado na área de produção e melhoria agrícola, o Brasil ainda produz muito pouco conhecimento para entender, por exemplo, os mecanismos da hidrólise ácida e enzimática ou o que ocorre com as plantas quando elas convertem energia solar em energia química", afirmou.

Segundo Cerqueira Leite, o Centro de Tecnologia do Bioetanol, cujas atividades serão focadas tanto em pesquisa básica como aplicada, "foi concebido para sanar a situação de deficiência e atraso do Brasil na área". A previsão é que as instalações físicas estejam prontas até o fim do ano. Os primeiros equipamentos de pesquisa deverão ser comprados no início de 2009.

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