Redação do Site Inovação Tecnológica - 18/10/2013
Aprender com os próprios erros, ter empatia pelos sofrimentos alheios e respeitar a segurança das futuras gerações são coisas que geralmente consideramos algo natural e garantido.
Não é o que está acontecendo no tocante à política energética do Governo brasileiro.
Nos últimos dois anos, as atenções mundiais têm ficado voltadas para o problema da Usina de Fukushima, no Japão, com todo o sofrimento envolvido no acidente, incluindo contaminações, deslocamentos de populações, áreas fechadas indefinidamente por causa da radiação e uma poluição que vaza ainda descontrolada para o oceano.
Ainda não há solução técnica à vista, e a próxima etapa de desativação dos reatores envolve inclusive um pequeno risco de explosão.
Nada disso parece sensibilizar o governo brasileiro. Apesar de outros países terem interrompido seus programas nucleares, o Brasil segue firme na vontade de ter reatores nucleares, não se sabe bem por que.
Segundo Altino Ventura, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, a construção de mais usinas térmicas no Brasil, englobando unidades nucleares e a carvão, é uma estratégia de longo prazo do governo federal.
Enquanto o mundo caminha para novas formas de geração de energia, o Brasil partirá definitivamente para geradoras típicas do século XIX e XX: termelétricas a carvão e usinas nucleares.
"É necessário ter outra fonte que a gente chama que vai ser (sic) o carro-chefe da expansão e vai se responsabilizar por 40%, 50%, 60% do incremento do mercado," disse ele.
Segundo o técnico do governo, as usinas nucleares têm o "menor custo de combustível", seguida do carvão mineral e do gás natural.
É no mínimo interessante que um governo pense o futuro energético do país usando como parâmetro o custo do combustível - será que não seria o caso de enviar uma missão de todos esses técnicos a Fukushima, para que eles tenham uma ideia melhor do que sejam custos para a população e até para o planeta como um todo?
Não se deve descartar a força do lobby das empresas fornecedoras de equipamentos para usinas nucleares, que estão vendo seus mercados desaparecerem em todo o mundo, e devem estar voltando os olhos para "novas fronteiras".
O secretário disse que, no planejamento de longo prazo, até 2030, está prevista a construção de mais quatro usinas nucleares no país.
"Essa visão de longo prazo está sendo revista neste momento, estendendo o horizonte de 2030 para 2050, onde a opção nuclear será reavaliada," disse Ventura.
Não se trata apenas da desventura das propostas, mas os próprios termos soam estranhos no contexto: "visão de longo prazo", "horizonte", não parecem soar adequados para um projeto de futuro pleno de riscos para a população.
Como lidar com os riscos nucleares ou com a poluição das termelétricas a carvão, isso não parece fazer parte das preocupações do governo: o técnico se limita a dizer que será necessário esperar pela "evolução da tecnologia".
Talvez dependamos da "evolução das ideias", ou talvez da "evolução dos governos", para que se possa fazer um planejamento que inclua de fato uma visão de longo prazo e horizontes novos para o Brasil.