Com informações do ESO - 13/03/2014
Monóxido de carbono no espaço
Astrônomos descobriram uma bolha de monóxido de carbono gasoso no disco de poeira que circunda a estrela Beta Pictoris.
A descoberta é surpreendente porque se espera que esse gás seja rapidamente destruído pela radiação estelar.
Isso significa que o gás pode estar sendo constantemente produzido naquele ambiente.
Beta Pictoris, uma estrela próxima e facilmente observável a olho nu no céu austral, já é tida como sendo o arquétipo dos sistemas planetários jovens.
Ela abriga pelo menos um planeta, que orbita a estrela a uma distância de 1,2 bilhão de quilômetros e foi uma das primeiras estrelas que se descobriu ser rodeada por um enorme disco de poeira.
O que as novas observações do telescópio ALMA mostram é que esse disco está permeado de gás de monóxido de carbono.
O monóxido de carbono é rápida e facilmente destruído pela radiação estelar - o gás dura apenas cerca de 100 anos no local onde se encontra no disco de Beta Pictoris.
Observá-lo num disco com 20 milhões de anos de idade é realmente uma surpresa. A pergunta é então: de onde é que este gás vem e porque é que ainda está lá?
Água dos cometas
Paradoxalmente, a presença deste gás, tão prejudicial aos humanos na Terra, poderá indicar que o sistema planetário Beta Pictoris se tornará eventualmente passível de abrigar vida.
O bombardeamento de cometas que os seus planetas sofrem atualmente está muito provavelmente fornecendo-lhes a água indispensável à vida como a conhecemos.
"A não ser que estejamos observando Beta Pictoris num momento muito particular, o monóxido de carbono deve estar sendo criado continuamente," disse Bill Dent, astrônomo do ESO. "A fonte mais abundante de monóxido de carbono num sistema estelar jovem é a colisão de objetos gelados, desde cometas a objetos maiores do tamanho de planetas".
Os cometas contêm gelos de monóxido de carbono, dióxido de carbono, amônia e metano. No entanto, a sua componente majoritária é uma mistura de poeira e gelo de água.
Como no caso da água da Terra, o problema é definir se há cometas suficientes para produzir tanto monóxido de carbono.
"Para que haja a quantidade de monóxido de carbono que estamos observando, a taxa de colisões tem de ser verdadeiramente espantosa - uma colisão de um cometa grande a cada cinco minutos," calcula Aki Roberge, coautor do estudo. "E para termos este número de colisões, terá que haver uma enorme concentração de cometas".
Bolha de gás no espaço
Outro desafio para a teoria dos choques de cometas é que o monóxido de carbono concentra-se em uma única bolha muito compacta.
Esta concentração situa-se a 13 bilhões de quilômetros de distância da estrela, o que corresponde a cerca de três vezes a distância de Netuno ao Sol. A razão pela qual o gás se concentra nesta pequena bolha tão longe da estrela permanece um mistério.
"Ou a atração gravitacional de um planeta ainda não detectado, com massa semelhante à de Saturno, concentra as colisões cometárias nesta pequena região, ou o que estamos vendo são os resquícios de uma colisão catastrófica entre dois planetas gelados com massas semelhantes à de Marte". arrisca Mark Wyatt, astrônomo da Universidade de Cambridge.
Ambas as hipóteses dão aos astrônomos razões para esperar descobrir vários outros planetas em torno de Beta Pictoris. "Este monóxido de carbono é apenas o início - podem haver outras moléculas pré-orgânicas mais complexas liberadas por estes corpos gelados", acrescentou Roberge.