Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/11/2012
Cor do vazio
Um grupo internacional de físicos descobriu que os saltos quânticos dos elétrons entre duas nanopartículas de ouro podem mudar a cor do espaço vazio entre as duas minúsculas esferas.
O experimento, que mostra a mecânica quântica em ação no ar a temperatura ambiente, mas não dispensa a visão clássica do mundo, estabelece limites fundamentais para o aprisionamento da luz.
O fenômeno só ocorre quando as duas nanoesferas de ouro estão muito próximas, a uma distância menor do que 1 nanômetro uma da outra.
Ele foi identificado graças a uma mudança de cor no espaço vazio entre as duas partículas, que passa do vermelho para o azul.
Túnel do beijo
Quando um feixe de luz branca incide sobre o experimento, o espaço minúsculo entre as duas esferas adquire uma cor graças às interações dos elétrons na superfície das duas esferas.
O feixe de luz branca empurra os elétrons, fazendo-os oscilar, o que dá uma cor vermelha ao espaço. Conforme as esferas se aproximam, aumenta a concentração de elétrons, intensificando a tonalidade vermelha.
Mas quando essa distância é reduzida ainda mais, os elétrons começam a saltar de uma esfera para a outra, graças ao efeito túnel - o tunelamento permite a troca de elétrons mesmo que as duas nanoesferas não se toquem, um fenômeno explorado em microscópios, transistores e sensores.
Essa troca de elétrons diminui a carga na superfície das esferas, fazendo com que a cor do espaço entre elas passe do vermelho para o azul.
"Nós pensamos nisso como a tensão se elevando entre um casal romântico. Conforme seus rostos se aproximam, a tensão aumenta, e somente um beijo pode descarregar essa energia," comparou o professor Jeremy Baumberg, responsável pela parte experimental do estudo.
A comparação tem suas limitações, já que as duas nanoesferas de ouro nunca se "beijam" de verdade, já que sua distância permanece a não menos do que 0,35 nanômetro.
Optoeletrônica e robôs
O estudo congregou algumas teorias muito inovadoras no campo da mecânica quântica. Ele exigiu, por exemplo, a mesclagem da visão clássica com a visão quântica da realidade.
"Modelar tantos elétrons oscilando nas partículas de ouro em resposta a um feixe de luz é algo que não pode ser descrito com nenhuma teoria existente," disse Javier Aizpurua, coordenador do estudo.
Essa reinterpretação da interação entre luz e matéria em escalas tão diminutas abre novas possibilidades de descrever e medir o mundo em escala atômica, abrindo as portas para novas estratégias para fabricação de dispositivos optoeletrônicos ou para realização de experimentos no campo da fotoquímica.
Além disso, o experimento venceu vários desafios de engenharia, que poderão ser aproveitados para estudar diversos outros fenômenos, como a força de Casimir, que impõe sérias restrições aos MEMS e aos robôs microscópicos.