Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/08/2011
Ceticismo
Em 2005, a equipe do Dr. Derek Lovley anunciou a descoberta de uma forma de transmissão bacteriana de eletricidade que poderia revolucionar as células a combustível.
A bactéria forma projeções, minúsculos filamentos que se assemelham aos nanofios artificiais, sendo capaz de capturar os elétrons que o organismo precisa para viver.
A descoberta, contudo, não foi muito bem recebida por seus pares: os tais nanofios bacterianos foram maldosamente chamados de "super tentáculos" e a pesquisa enfrentou um enorme ceticismo.
De fato, é para impressionar: o que a Geobacter sulfurreducens faz com seus nanofios equivale a um mergulhador respirar com um snorkel de 10 quilômetros de comprimento.
Biológico com comportamento metálico
Agora, contudo, a equipe da Universidade de Massachusetts não precisará de um snorkel para respirar aliviada.
Eles finalmente identificaram o mecanismo que permite que a bactéria transfira os elétrons como se fosse um fio.
Caprichosamente, para desespero dos céticos, o achado é ainda mais impressionante: os "tentáculos" da G. sulfurreducens possuem filamentos de proteína que transportam elétrons como se fossem fios metálicos.
"A capacidade dos filamentos de proteína conduzirem elétrons dessa maneira é uma mudança de paradigma na biologia e tem ramificações para o nosso entendimento dos processos microbianos naturais, assim como implicações práticas para a limpeza do meio ambiente e para o desenvolvimento de fontes renováveis de energia," comemora o Dr. Lovley.
Talvez mais do que isso. Fios condutores bacterianos podem representar uma ferramenta de valor inestimável para a nanotecnologia e a bioeletrônica, criando circuitos que façam interfaces com sistemas biológicos e circuitos eletrônicos que dispensem muitos dos nanomateriais tóxicos.
Condução sem saltos
O que os cientistas descobriram agora é que as cadeias de proteínas conduzem os elétrons ao longo do seu comprimento, o que permite que elas sejam tão boas condutoras de eletricidade quanto os polímeros condutores usados pela emergente eletrônica orgânica.
Até agora se acreditava que a transferência de elétrons nas bactérias se fizesse por meio de outras proteínas, conhecidas como citocromos - os elétrons iriam pulando de citocromo em citocromo.
Os pesquisadores desbancaram essa hipótese eliminando os citocromos do filamento, demonstrando que os elétrons movem-se de forma suave, sem qualquer salto. A geobactéria funciona de fato como um fio metálico biológico.
Na natureza, a geobactéria usa seus nanofios microbianos para transferir elétrons para óxidos ferrosos, materiais naturais semelhantes à ferrugem. Esses óxidos são o oxigênio dessas bactérias.
Transístor biológico
Muitos dos nanomateriais produzidos hoje dependem de metais raros e caros. Os cientistas agora demonstraram que a geobactéria é uma alternativa natural e barata.
Eles demonstraram que é possível ajustar o nível de transmissão elétrica dos nanofios aplicando uma tensão externa - ou seja, em princípio, o biofilme pode funcionar como um transístor biológico.
"Eu vejo os nanofios nesse biofilme como um novo material, apenas com o detalhe de que ele é feito pela natureza," disse o físico Mark Tuominen, que participou da pesquisa.
"É entusiasmante que esse material possa fazer a ponte entre a eletrônica de estado sólido e os sistemas biológicos. Ele é biocompatível de uma forma nunca vista antes," conclui.