Redação do Site Inovação Tecnológica - 02/02/2023
Motor hipersônico
Em um dos feitos tecnológicos mais aguardados para tornar o voo hipersônico operacional uma realidade, a empresa emergente Hermeus conseguiu recentemente fazer a transição de turbojato para ramjato usando o mesmo motor.
O turbojato é o motor tradicional mais utilizado pelos aviões comerciais, enquanto o ramjato - ou estatojato - é um motor sem partes móveis, no qual a própria pressão do ar que entra fornece as condições necessárias para a combustão - para que essa pressão seja suficiente, o motor só funciona nesse regime a partir de um limite mínimo de velocidade.
Como o motor ramjato - seu nome técnico é duto aero-termodinâmico - não funciona parado, ele precisa ser colocado em movimento. A ideia de usar um motor a jato convencional para fazer isso é antiga, mas até agora ninguém havia conseguido usando um só motor - o normal é usar foguetes para atingir a velocidade mínima necessária.
A demonstração foi feita usando o motor Chimera (Quimera), projetado para ser um motor de ciclo combinado baseado em turbina, o que basicamente significa que ele é um híbrido entre um turbojato e um ramjato.
Com a demonstração da capacidade do motor em alternar entre esses dois modos, a Hermeus agora já começa a falar do seu primeiro protótipo de avião hipersônico. Batizado de Quarterhorse (Quarto de Milha), ele deverá decolar de um aeroporto comum e acelerar continuamente até velocidades várias vezes superiores à do som.
Motor ramjato
Os motores de turbina a gás convencionais operam com eficiência até Mach 2,3 - ou 2,3 vezes a velocidade do som. Com a adição de um pré-resfriador do motor, eles podem atingir cerca de Mach 3.
Os motores ramjato, por outro lado, podem atingir velocidades muito mais altas, mas só começam a funcionar efetivamente em velocidades próximas a Mach 3. Um motor híbrido combina os pontos fortes de cada um, operando no modo de turbina a gás do zero até Mach baixos, e faz a transição para o modo ramjato para atingir Mach altos.
O motor Chimera possui um pré-resfriador, que reduz a temperatura do ar que entra no turbojato, permitindo obter um pouco mais de desempenho do turbojato, viabilizando a transição para o ramjato. Por volta de Mach 3, o Chimera começa a contornar o ar que entra em torno do turbojato e o ramjato assume o controle completamente. A empresa estima que, no modo ramjato, o motor seja eficiente até cerca de Mach 5.
Garantida a ignição, o fato é que o ramjato é um sistema de propulsão muito simples que "impulsiona" o ar de alta pressão que entra para criar compressão. O combustível é misturado com esse ar comprimido e inflamado, gerando impulso. Embora já sejam usados em tecnologias destrutivas, esses motores até agora dependiam de um foguete para dar a ignição, o que é inadequado para aviões de passageiros.
Com o motor pronto e funcionando, a Hermeus acredita ser possível testar seu primeiro protótipo de avião hipersônico, em escala reduzida, ainda neste ano.
Aviões hipersônicos
Sempre houve dúvidas se os aviões hipersônicos se tornariam práticos, já que a tecnologia vem sendo perseguida há décadas por empresas e agências espaciais nacionais, como o avião hipersônico da NASA, o SpaceLiner da Agência Espacial Europeia e o hipersônico australiano HyCause.
Sob essa perspectiva, o progresso anunciado agora pela empresa parece notável: "A Hermeus projetou, construiu e testou o Chimera em 21 meses, a um custo de US$ 18 milhões," anunciou a empresa em nota. Na verdade, porém, a empresa tirou proveito de toda a estrutura e pessoal qualificado do Laboratório de Turbomaquinaria da Universidade de Notre Dame, uma estrutura cujo custo e aquisição de conhecimento custaram muito mais do que isso.