Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/10/2019
Rendas em um berço estelar
Astrônomos usaram o radiotelescópio ALMA para capturar uma imagem de altíssima resolução de dois discos nos quais estrelas jovens estão crescendo, alimentadas por uma complexa rede de filamentos de gás e poeira.
Observar esse fenômeno - algo que não era possível antes da inauguração do ALMA, lança uma nova luz sobre as fases iniciais da vida das estrelas e ajuda os astrônomos a determinar as condições nas quais as estrelas binárias nascem.
As duas estrelas-bebê foram encontradas no sistema mais jovem de um pequeno aglomerado estelar na nebulosa escura Barnard 59, que faz parte das nuvens de poeira interestelar denominadas Nebulosa do Cachimbo.
Observações anteriores deste sistema binário mostraram a estrutura externa. Agora, graças à alta resolução do ALMA, foi possível ver a estrutura interna desse objeto.
"Vemos duas fontes compactas que interpretamos como discos circunstelares em torno de duas estrelas jovens," explicou o astrônomo brasileiro Felipe de Oliveira Alves, atualmente no Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, na Alemanha, que liderou o estudo. O professor Gabriel Armando Pellegatti Franco, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde Felipe se graduou, também assina o artigo.
Disco circunstelar
Um disco circunstelar é o anel de gás e poeira que rodeia uma estrela jovem. A estrela captura matéria do anel e vai crescendo. "O tamanho de cada um destes discos é semelhante ao cinturão de asteroides do nosso Sistema Solar e a separação entre eles é 28 vezes maior que a distância entre a Terra e o Sol," diz Felipe.
Os dois discos circunstelares estão rodeados por um disco maior, com uma massa total de cerca de 80 massas de Júpiter, que exibe uma complexa rede de estruturas de poeira distribuídas em formas espirais.
"Trata-se de um resultado importante," enfatiza Paola Caselli, coautora do trabalho. "Finalmente, visualizamos a estrutura complexa de jovens estrelas binárias com seus filamentos de 'alimentação' conectando-os ao disco em que nasceram. Isso impõe importantes limites aos atuais modelos de formação estelar."
As estrelas nascentes acumulam massa do disco maior em dois estágios. O primeiro estágio é quando a massa é transferida para os discos circunstelares individuais em laços giratórios, que é o que a nova imagem do ALMA mostra. A análise dos dados também revelou que o disco circunstelar menos massivo, porém mais brilhante - visto na parte inferior da imagem - acumula mais material. No segundo estágio, as estrelas acumulam massa a partir de seus discos circunstelares.
"Esperamos que esse processo de acréscimo em dois níveis conduza a dinâmica do sistema binário durante sua fase de acréscimo em massa," acrescenta Felipe. "Embora o bom acordo dessas observações com a teoria já seja muito promissor, precisaremos estudar mais sistemas binários jovens em detalhes para entender melhor como é que estrelas múltiplas se formam."