Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/03/2021
Arca de Noé Lunar
Pesquisadores estão propondo construir uma "Arca de Noé espacial" para resguardar a vida da Terra contra eventuais catástrofes.
Em lugar de uma nave espacial, contudo, Alvaro Flores e seus colegas da Universidade do Arizona propõem construir enormes prédios dentro dos tubos de lava subterrâneos que se acredita existirem na Lua.
Se essas estruturas geológicas realmente existirem, elas representariam ambientes praticamente intocados há bilhões de anos.
Nesses prédios, seriam armazenadas amostras congeladas de sementes, esporos, espermatozoides e óvulos de 6,7 milhões de espécies terrestres.
Seria uma versão espacial e ampliada do Depósito Global de Sementes de Svalbard, na Noruega, e da proposta Arca de Noé de bactérias benéficas.
Tubos de lava na Lua
As mudanças climáticas estão entre as justificativas para criar a Arca de Noé Lunar. Se o nível do mar continuar a subir, muitos lugares secos ficarão submersos - eventualmente até o Banco de Sementes de Svalbard se a coisa for muito séria.
Assim, a equipe acredita que o armazenamento de amostras em outro corpo celeste reduziria o risco de perda da biodiversidade se um evento causar a aniquilação total da Terra.
"A Terra é naturalmente um ambiente volátil. Como humanos, escapamos por um triz cerca de 75.000 anos atrás com a erupção supervulcânica de Toba, que causou um período de resfriamento de 1.000 anos e, de acordo com alguns, se alinha com uma queda estimada na diversidade humana. Como a civilização humana tem uma pegada tão grande, se ela entrar em colapso, isso poderia ter um efeito negativo em cascata sobre o resto do planeta," comenta o professor Jekan Thangavelautham para justificar a ideia.
Em 2008, a sonda espacial japonesa Kaguya fotografou uma estrutura geológica que parece ser um longo tubo de lava colapsado. Posteriormente, a sonda MRO da NASA fotografou a área em mais detalhes, mostrando poços de 65 metros de diâmetro e 36 metros de profundidade, compatíveis com a ideia de tubos de lava.
Se existe um, devem existir mais, com túneis intactos, que ainda não desabaram. A ideia da equipe é enviar pequenos robôs voadores e saltadores para recolher informações sobre as dimensões, a temperatura e a composição geológica dos tubos de lava, o que será necessário para elaborar o projeto definitivo da base lunar subterrânea.
Prateleiras com levitação quântica
A grande vantagem da Lua é que lá já é naturalmente frio, o que reduzirá a demanda de energia para o congelamento dos espécimes. Para serem criopreservadas, as sementes devem ser resfriadas a -180 ºC e as células-tronco mantidas a -196 ºC. Como referência, as vacinas de RNA contra covid-19 devem ser armazenadas a -70 ºC.
Mas isso também representa um desafio para o material de construção da própria arca, uma vez que há o risco de que partes metálicas congelem, emperrarem ou mesmo soldem-se a frio - na Terra, as companhias aéreas interrompem as operações quando as temperaturas do solo chegam a -50 ºC, por exemplo.
Por outro lado, é possível tirar proveito das temperaturas extremas usando fenômenos como a supercondutividade e a levitação quântica, em que um material supercondutor fica flutuando acima de um ímã. As duas peças são travadas a uma distância fixa, então, aonde quer que o ímã vá, o supercondutor o segue. O projeto da arca propõe usar este fenômeno para fazer as prateleiras de amostras flutuarem sobre superfícies de metal e fazer com que robôs naveguem pelas instalações acima dos trilhos magnéticos.
Finalmente, transportar cerca de 50 amostras de cada uma das 6,7 milhões de espécies também não será tarefa fácil. A equipe calcula que isso exigiria cerca de 250 lançamentos de foguetes - foram necessários 40 lançamentos para construir a Estação Espacial Internacional.