Redação do Site Inovação Tecnológica - 03/05/2023
Transporte do hidrogênio
A "economia do hidrogênio" é um objetivo perseguido por pesquisadores e empresas em todo o mundo porque ela pode significar usar energia sem poluir o meio ambiente.
Os maiores entraves para isso estão na geração limpa do hidrogênio e em seu transporte, sobretudo por longas distâncias: Substituir os navios petroleiros por navios carregados de hidrogênio, por exemplo, não é fácil por razões técnicas e econômicas.
A melhor opção hoje para o transporte consiste em liquefazer o hidrogênio, o que requer resfriamento a 20 Kelvin (-253 ºC), mas este é um processo caro e requer cerca de 30% da energia contida no gás.
Ar sólido
Agora, uma equipe internacional, incluindo pesquisadores de três universidades brasileiras, está propondo uma abordagem alternativa que é mais barata: Usar ar em estado sólido como um meio de armazenamento para reciclar o frio em toda a cadeia de fornecimento da liquefação de hidrogênio.
À temperatura e pressão ambientes, o ar é um gás, mas é possível variar essas condições para que ele se torne um líquido ou um sólido.
A proposta, chamada Liquefação de Hidrogênio em Ar Sólido (LHAS), consiste em armazenar a energia de resfriamento da regaseificação do hidrogênio por meio da solidificação do ar, e então transportar o ar sólido de volta para onde o hidrogênio é liquefeito, essencialmente levando o frio de volta para liquefazer mais hidrogênio.
Em outras palavras, o ar sólido é usado para reduzir o consumo de energia para liquefazer o hidrogênio.
Reciclagem do frio
O processo é dividido em quatro etapas principais: regaseificação de hidrogênio, transporte de ar sólido, liquefação de hidrogênio e transporte de hidrogênio líquido.
Segundo os cálculos da equipe, em vez de usar o ar ambiente diretamente, a melhor solução técnica seria usar nitrogênio (N2) ou oxigênio (O2) sólidos. A solidificação é realizada dentro do próprio tanque de armazenamento do navio.
"O N2 ou O2 líquido é carregado no tanque criogênico pulverizando-o próximo a suas temperaturas de fusão (54 e 63 K, respectivamente) . Assim que o N2 ou O2 líquido submergir no H2 líquido, a 20 K, o N2 ou O2 solidificará, acumulará no fundo do tanque e reduzirá suas temperaturas para 20 K, enquanto o H2 evapora," descreve a equipe.
Outra vantagem da solidificação do ar para recuperação de energia para liquefação do hidrogênio é a produção extra de oxigênio: O oxigênio pode ser usado para aumentar a eficiência da geração de energia com a oxi-combustão e facilitar a captura, uso e armazenamento de carbono.
"Usar o ar sólido como um meio para reciclar a energia de resfriamento em toda a cadeia de fornecimento de liquefação de hidrogênio pode reduzir o custo e o consumo de energia para transportar hidrogênio entre os continentes," disse Julian Hunt, do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados, na Áustria. "Isso aumentaria a viabilidade de uma economia global de hidrogênio no futuro e aumentaria o número de fornecedores de hidrogênio para regiões que demandam energia, como China, Europa e Japão. A possibilidade de vender hidrogênio pode resultar em uma expansão adicional da energia solar e da energia eólica em países em desenvolvimento, contribuindo para suas economias."
Melhor que amônia ou metanol
Segundo a equipe, o uso do ar sólido seria mais vantajoso do que as propostas atuais, que têm girado basicamente em torno do uso de substâncias em estado líquido, como a amônia, o metanol ou o próprio hidrogênio líquido puro.
"Em comparação com amônia ou metanol, o hidrogênio liquefeito é a melhor opção por vários motivos. Transportar hidrogênio como amônia e outras moléculas exigiria cerca de 30% da energia transportada para extrair o hidrogênio. O hidrogênio é liquefeito onde a eletricidade é barata. Além disso, a LHAS pode reduzir o consumo de energia para liquefação de hidrogênio em 25 a 50%," disse Hunt.
A energia necessária para liquefazer o hidrogênio é reduzida em 25,4% usando N2 e em 27,3% usando O2. Tecnicamente, o O2 sólido é um transportador de energia de liquefação do hidrogênio melhor do que o N2 sólido, mas a equipe recomenda o N2 devido ao risco de explosão no uso do O2.
A equipe conta com pesquisadores das universidades federais do Espírito Santo (UFES), Rio de Janeiro (UFRJ) e Rio Grande do Sul (UFRGS).