Redação do Site Inovação Tecnológica - 18/09/2018
Coordenadas para o Universo
O céu ganhou um novo referencial de localização - a União Astronômica Internacional acaba de aprovar o Quadro de Referência Celestial Internacional (ICRF-3: International Celestial Reference Frame 3).
Este referencial tem validade global: ele serve como referência tanto para os sistemas usados na Terra, como os sistemas globais de navegação por satélite, quanto para a navegação das sondas e naves espaciais.
Os sistemas de posicionamento por satélite (GPS, Galileo, Glonass e Beidou) e suas aplicações são bem conhecidos, mas um sistema de referência também é necessário para medir coisas como o movimento das placas tectônicas, as mudanças no nível do mar e até mudanças na posição da Terra no espaço.
Para a superfície da Terra - que também pode ser alterada por terremotos e vulcanismo, por exemplo -, o Quadro de Referência Terrestre Internacional (ITRF: International Terrestrial Reference Frame) determina todas as posições na Terra em um sistema de coordenadas, com o centro da Terra como o centro do sistema.
Contudo, para medir, por exemplo, se o nível do mar está subindo, o referencial na superfície da Terra precisa de outro referencial no céu ao qual possa estar relacionado. E esse referencial no céu é essencial para se estabelecer a posição precisa e a direção de movimento das sondas e naves espaciais.
Grade virtual no espaço
Como quanto mais preciso for o referencial no céu, mais precisa pode ser a observação de mudanças na superfície da Terra e o monitoramento das naves espaciais, o primeiro passo de tudo consiste em estabelecer pontos fixos em relação aos quais as demais posições possam ser descritas.
"Usar as estrelas fixas que vemos no céu noturno não é uma boa ideia. Com o tempo, elas mudam um pouco, relativamente umas às outras. Isso significa que seria necessário definir um novo sistema de referência a cada poucos anos para manter o nível exigido de precisão," explica o professor Johannes Böhm, da Universidade Técnica de Viena, na Áustria.
Uma solução muito melhor é usar as fontes de rádio extragalácticas, ou quasares.
"Hoje em dia, conhecemos centenas de milhares de objetos no espaço que emitem radiação extremamente intensa e de ondas longas," explica Böhm. "São buracos negros supermassivos no centro de galáxias distantes, também conhecidos como quasares, que algumas vezes estão localizados a bilhões de anos-luz de distância de nós."
Vistas da Terra, essas fontes de radiação parecem-se com pontos - geometricamente falando, uma figura sem dimensões. E a sua enorme distância, fazendo com que pareçam estáticas no céu, as torna ideais para estabelecer um sistema de referência mundial.
Agora, a União Astronômica Internacional (IAU) decidiu usar este mapa de fontes de rádio de alta precisão como um quadro de referência internacional para o espaço e para a Terra.
Assim como as longitudes e latitudes na superfície da Terra, o céu poderá ser coberto com uma grade virtual. Este quadro de referência permite um posicionamento preciso dos objetos no céu em relação à Terra. Para o estabelecimento desta rede, cerca de 50 radiotelescópios na Terra vão monitorar 4.536 quasares, que servirão como âncoras da rede.