Redação do Site Inovação Tecnológica - 29/04/2022
Animação suspensa
As notícias não são boas para os fãs de ficção científica: Os humanos poderão nunca ser capazes de sobreviver em animação suspensa durante longas viagens pelo espaço.
A animação suspensa propõe uma espécie de pausa na vida fisiológica, usando tecnologias - que ainda não existem - para desacelerar radicalmente os processos fisiológicos vitais, sem levar à morte. Isto permitiria que um ser humano "interrompesse" sua vida ao sair da Terra, e só voltasse a viver, com a mesma idade e as mesmas condições físicas, centenas de anos depois, quando sua nave chegasse a outro sistema planetário.
Isso seria necessário porque, segundo as teorias de Einstein, nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz, e as outras estrelas estão longe demais de nós, o que tornaria as viagens mais longas do que a expectativa atual de vida de um ser humano. Assim, a alternativa à animação suspensa também envolve ficção, no sentido de se contrapor ao conhecimento científico vigente.
Como, até agora, os cientistas não conseguiram demonstrar que Einstein estava errado, Roberto Nespolo e seus colegas das universidades Austral e Católica do Chile decidiram investigar se os humanos poderiam hibernar como os ursos, permitindo-nos cochilar durante as viagens pelo espaço que deverão durar mais do que uma vida.
Infelizmente, a conclusão é que é improvável que a técnica de hibernação funcione para os humanos porque não economizaríamos energia suficiente durante a hibernação.
Por que humanos não hibernam?
A equipe analisou o metabolismo durante a hibernação em uma série de mamíferos, de morcegos a ursos, e descobriu que um grama (1g) de tecido em um morcego tem um metabolismo semelhante a 1g de tecido em um urso, ambos durante a hibernação, apesar de um urso ser cerca de 20.000 vezes maior.
Estimando o provável metabolismo de um ser humano hibernando, com base em nossa própria massa, eles constataram que economizamos mais energia dormindo do que economizaríamos se estivéssemos hibernando.
Em seu estudo, a equipe utilizou dois conceitos fundamentais: A taxa metabólica basal (BMR: Basal Metabolic Rate), que é a quantidade calórica que o corpo necessita, em vinte e quatro horas, para manter-se nutrido, e o gasto energético diário de hibernação (DEEH: daily energy expenditure of hibernation), este extrapolado dos animais que hibernam para os seres humanos.
"Dado que a taxa metabólica dos animais ativos escala alometricamente [de acordo com o tamanho do corpo], o ponto onde essas curvas de escala se cruzam com o DEEH representa a massa onde a economia de energia por hibernação é zero. Para a BMR, essa economia zero é alcançada para um relativamente pequeno urso (aproximadamente 75 kg).
"Calculado por célula, o poder metabólico celular de hibernação foi estimado em 1,3 x 10-12 ± 2,6 x 10-13 W/célula, que é inferior ao metabolismo mínimo de células isoladas de mamíferos, o que corrobora a ideia da existência de um metabolismo mínimo que permite às células sobreviver sob uma combinação de frio e hipóxia," concluiu a equipe.
Mas, se lhe serve de consolo, a Agência Espacial Europeia tem bancado estudos sobre a hibernação de astronautas.