Com informações da Agência Fapesp - 13/05/2019
Física latina
Pesquisadores de diversos países latino-americanos formaram um grupo de trabalho com o objetivo de reunir subsídios para a produção de relatórios com informações e propostas sobre possíveis pesquisas colaborativas a serem realizadas, e a infraestrutura necessária para isso, em três grandes campos de estudos: Física de partículas de alta energia, Astrofísica e Cosmologia.
"O grupo preparatório vai apresentar os white papers [relatórios] para um comitê estratégico composto por cientistas eminentes e representantes das agências de fomento à pesquisa. O grupo estratégico escolherá, dentre as propostas apresentadas, aquelas que devem ter prioridade para compor um projeto-piloto," explicou o físico Nathan Berkovits, professor da Unesp.
Esse grande esforço de articulação visa impulsionar a pesquisa em áreas estratégicas da física na América Latina, emancipando o subcontinente da posição subalterna em que se encontra por razões históricas e políticas. O exemplo que inspira a iniciativa é o do Cern, que controla o LHC e nasceu em 1949 em uma Europa que acabava de emergir do pesadelo da Segunda Guerra Mundial, ocupando hoje posição de vanguarda na ciência mundial.
Concebida por um pequeno grupo de físicos visionários - entre eles, gigantes da ciência como Niels Bohr, Louis de Broglie e Pierre Auger - a organização visava estancar a evasão de cérebros para os Estados Unidos e fornecer uma base intelectual para a reconstrução da Europa.
"Sabendo que cada país europeu isoladamente não poderia levar adiante pesquisas de grande porte, esses cientistas empenharam-se na cooperação. E a iniciativa serviu de modelo para a posterior criação da União Europeia. Um esforço análogo é o que buscamos realizar agora na América Latina," disse Fernando Quevedo, diretor do ICTP (International Centre for Theoretical Physics), na Itália.
Quevedo foi um dos grandes instigadores da articulação que resultou no Fórum Estratégico Latino-Americano para Infraestrutura na Pesquisa. "Nossa produção científica sempre foi liderada por Estados Unidos e Europa. Porém, ao longo dos anos, formou-se, na América Latina, uma comunidade científica bastante qualificada. Exceto o Brasil, nenhum país da região possui massa crítica de pesquisadores e recursos financeiros para, isoladamente, produzir uma ciência de padrão internacional. Mas, juntos, poderemos fazê-lo," afirmou.
"O exemplo típico é o do Túnel de Água Negra, entre o Chile e a Argentina, que poderá ser usado em pesquisas sobre neutrinos e matéria escura," acrescentou.
A data-limite para que o grupo preparatório apresente os relatórios foi fixada em 1º de dezembro de 2019. E a próxima reunião plenária do grupo preparatório deverá ocorrer no ICTP-SAIFR, em São Paulo, no dia 2 de março de 2020.